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sexta-feira, agosto 17

Estudos Semioticos na Biblia


Resumo: Vivemos rodeados por símbolos, são eles desde o aceno de mãos em uma despedida ao alfabeto
que utilizamos para falar e escrever. Embora a literatura sobre o simbólico se utilize de diversas definições
reducionistas para a palavra “símbolo”, é certo que, ao explicarmos o simbólico, sempre resta algo intraduzível,pois o símbolo aponta para algo que está ausente, representando-o, mas sem apreender todas as suaspossibilidades. A redução ou especialização extrema do sentido de um símbolo costuma ter como consequência adegradação do significado, tornando-o uma insignificância alegórica ou atributiva (Cirlot, 1984, p. 5). Além disso,a percepção do símbolo é também pessoal, visto que, em seu processo de formação, o ser humano acrescenta às experiências pessoais valores culturais e sociais herdados da humanidade que o precedeu até então. Nessesentido, o presente artigo discute o simbólico com base em Charles Sanders Peirce, buscando mostrar como tal signo é constituído e entendido na semiótica criada pelo referido autor americano. Anteriormente, porém, na primeira parte do trabalho, foi necessário fazer algumas considerações gerais sobre o termo “símbolo”, suas origens e os vários significados que a ele são atribuídos. Em seguida, na segunda parte, tratamos da compreensão e interpretação dos símbolos em geral. Esperamos que o trabalho esclareça o papel do símbolo nos estudos semióticos, bem como fundamentalmente interpretações e análises do símbolo na literatura, cinema enas culturas de uma forma geral.
Palavras-chave: símbolo, Peirce, interpretação
1. Considerações gerais sobre o
símbolo
Como nos diz Cirlot (1984, p. 12), há indícios antigos,como o empoar dos cadáveres com ocre vermelho, de que o pensar simbolista1 teve seu princípio nos fins do paleolítico ou até mesmo antes. Naquela época, as
constelações, os animais, as pedras e os elementos da
paisagem natural foram os mestres da humanidade. A
inserção do homem no mundo dos fatos espirituais e
morais, por exemplo, deu-se por meio do contato com o
visível. Sem dúvida, como afirma Eliade (1991a, p. 8),
o pensamento simbólico, em todas as suas dimensões,
é consubstancial ao ser humano e precede qualquer
linguagem e razão discursiva.
Para Riffard (1993, p. 331), a palavra “símbolo”
(do grego symbolon) foi inicialmente utilizada entre os
gregos para se referir às metades de uma tabuinha
que hospedeiro e hóspede guardavam, cada um a sua
metade, transmitidas depois aos seus descendentes.
As duas partes juntas (sumballô) funcionavam para
reconhecer os portadores e para provar as relações de
hospitalidade ou de aliança adquiridas no passado2.
Quando dois amigos se separavam por um
período longo, ou para sempre, partiam uma
moeda, uma plaquinha de barro ou um anel;
se após anos alguém das famílias amigas retornasse,
as partes unidas (symbáleim = juntar,
reunir) podiam confirmar que o portador
de uma delas realmente fazia jus à hospitalidade
(Lurker, 1997, p. 656).
Dessa forma, ao representar as duas partes reunidas,
o símbolo é, inicialmente, “símbolo feito de algo”.
Ao ser utilizado, ele passa a ser “símbolo de algo”.
Como afirma novamente Lurker (1997, p. 656), o sím-

1 Embora o termo “simbolismo” seja também utilizado para se referir ao movimento literário e artístico, cujas raízes remontam ao fim do
século XVII, refiro-me aqui ao que Lurker (1997, p. 649) chamou de “o estudo, a doutrina, a ciência dos símbolos, de sua origem, significado
e divulgação”. Nesse sentido, a palavra envolve, por exemplo, os significados de uma figura mítica, de uma obra de arte, de um sonho ou
dos elementos que fazem parte de uma cultura ou religião.
2 Na antiguidade grega, os símbolos, concebidos dessa forma, eram também sinais de reconhecimento que possibilitavam aos pais reencontrarem seus filhos abandonados.
Emílio Soares Ribeiro
bolo, em sua origem, é um sinal visível de algo que não
se encontra ali presente de forma concreta, algo que
pode ser nele percebido: no exemplo dado, a amizade
dos possuidores das partes.
O símbolo separa e une, comporta as duas
ideias de separação e de reunião; evoca uma
comunidade que foi dividida e que se pode reagrupar.
Todo signo comporta uma parcela de
signo partido; o sentido do símbolo revela-se
naquilo que é simultaneamente rompimento
e união de suas partes separadas (Chevalier,
2001, p. XXI).
Por analogia, tal significado foi ampliado até compreender
os cupons, senhas ou fichas, que dão direito
a receber soldos, indenizações ou víveres.
O sentido da palavra “símbolo” desenvolveu-se bastante,
chegando a envolver, por exemplo, oráculos,
presságios, fenômenos extraordinários considerados
provindos dos deuses, emblemas de corporações, crachás
e vários tipos de sinais de compromisso, como
o anel de casamento ou o anel depositado pelos participantes
de um banquete, garantindo que pagarão
corretamente por ele. De fato, poucas palavras adquiriram
tão vasta significação como a palavra “símbolo”.
Em resumo, como afirma D’Alviella (1995, p. 21),
o termo “símbolo” passou gradualmente a se referir
a tudo aquilo que, seja por acordo geral ou analogia,
representava convencionalmente alguma coisa ou alguém.
Um símbolo é uma representação, mas não
uma reprodução. Enquanto uma reprodução implica
igualdade, um símbolo é capaz de evocar a concepção
do objeto que ele representa devido, por exemplo, a
características em comum, como é o caso da aliança,
símbolo do casamento, ou dos pratos de uma balança,
símbolo da ideia de justiça.
Para Chevalier e Gheerbrant (2001, p. XXI), a história
do símbolo comprova que qualquer coisa pode
adquirir valores simbólicos, seja ela natural (pedras,
animais, flores, fogo, rios, raio etc) ou abstrata (número,
ideia, forma geométrica etc). Assim, através dos
símbolos, objetos comuns adquirem ilimitáveis novos
significados. Um simples pedaço de pano, por exemplo,
ao ser erguido até o topo de um mastro, refere-se à
ideia de pátria. Da mesma forma, dois simples segmentos
de reta concorrentes e perpendiculares fazem
alusão ao sacrifício espontâneo de Cristo.
Vivemos rodeados por símbolos, são eles desde o
aceno de mãos em uma despedida ao alfabeto que utilizamos
para falar e escrever. Há símbolos que dizem
respeito predominantemente ao psicológico; outros, ao
cosmológico e natural.
Encontramos facilmente as mesmas representações
simbólicas em lugares diversos, povos distintos. Segundo
D’Alviella (1995, p. 27), essas questões dificilmente
podem ser explicadas pelo acaso. Para o
autor, ou essas imagens análogas foram concebidas
independentemente ou foram apropriadas de um país
por outro. Representações como a do sol por um disco
ou face que emite raios, por exemplo, não são próprias
de nenhuma raça ou nação específica. Trata-se de um
aspecto inerente ao ser humano: em determinada fase
de seu desenvolvimento, o homem simbolizou o deussol
com características que remetem à sua estrutura
físico-anatômica.
Da mesma forma, símbolos podem ser apropriados.
O simbolismo hindu, chinês e japonês, por exemplo,
penetrou entre nós por meio de artigos comerciais,
entre eles, vasos, tecidos e peças curiosas do Extremo
Oriente. Do mesmo modo, era hábito, entre os soldados,
marinheiros e viajantes antigos, ao deixar seus
lares, levar consigo seus símbolos, objetos pelos quais
tinham um estimável apreço, que disseminavam seu
significado e adquiriam outros novos. Ao circularem,
as moedas também difundem as representações simbólicas
traduzidas por seu povo ao cunhá-las.
Peirce (1958, CP, 2.302)3, autor que embasa nossa
pesquisa, afirma que “símbolos muitas vezes surgem
pelo desenvolvimento de outros signos, especialmente
ícones, ou signos com características icônicas e simbólicas
ao mesmo tempo”. E, como “pensamos apenas
em signos” e tais signos mentais são de natureza híbrida,
“um novo símbolo só pode surgir a partir de
símbolos”. Logo, essa “apropriação” de símbolos a que
se refere D’Alviella (1995), entre outros, nada mais é
do que algo inerente ao signo, o seu poder infinito de
representação.
Um símbolo, ao se constituir como tal, se
dissemina entre as pessoas. Ao ser usado
e experimentado, tem seu sentido ampliado.
Palavras como força, lei, riqueza e casamento,
para nós, remetem a significados bem diferentes
daqueles a que elas remetiam para nossos
antepassados (Peirce, 1958, CP, 2.302).
Os símbolos normalmente não aparecem isolados,
mas unem-se entre si, dando lugar a composições simbólicas.
Embora se costume estudar as razões pelas
quais ocorrem alterações nas formas dos símbolos,
nem sempre se dá relevância à atração que certas figuras
exercem sobre outras. Para D’Alviella (1995,
p. 145), quando dois símbolos expressam as mesmas
ideias ou se interrelacionam, eles tendem a se amalgamar
ou se combinar, produzindo, como consequência,
um outro símbolo.
Por não terem levado em consideração que
um símbolo pode se unir a várias figuras que
diferem acentuadamente quanto à origem e
3 Todas as referências no texto da obra The Collected Papers, de Peirce, foram feitas sob a sigla CP, seguida do número do volume e
número do parágrafo.
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estudos semióticos, vol. 6, no 1
até mesmo na aparência, muitos arqueólogos
desperdiçaram seu tempo debatendo sobre
as origens de um signo ou imagem [...]
(D’Alviella, 1995, p. 145).
Assim, ao estudar um símbolo, deve-se procurar
não somente os seus antecedentes, mas também as
comunicações que podem ter acontecido entre seus
protótipos e, caso se faça necessário, deve-se estudar
as relações entre os estágios sucessivos das transmutações
simbólicas pelas quais o símbolo passou.
Apresento a seguir algumas ideias acerca da interpretação
de representações simbólicas.
2. A interpretação do simbólico
Os primeiros estudos do simbólico foram realizados por
Athanasius Kircher (1602-1680), professor de matemática
e línguas orientais em Würzburg e Roma. Kircher
foi o primeiro autor a falar acerca de uma disciplina
symbolica e entendia o símbolo como algo que conduz
o espírito humano a conhecer uma outra coisa por
meio de alguma semelhança física com outras.
As tentativas seguintes vieram do Romantismo, com
destaque para Friedrich Creuzer, que desejava a criação
de uma disciplina própria para o estudo dos símbolos,
o que não ocorreu devido à constante ridicularização
do estudo do simbólico feita pelos seus opositores
e pelas correntes racionalistas e positivistas do século
XIX. Bachofen, pesquisador da antiguidade, não conseguiu
que o seu Versuch über die Gräbersymbolik der
Alten (1859) (Ensaio sobre o simbolismo dos túmulos da
Antiguidade) fosse compreendido, por não restringir
sua análise do símbolo a uma explicação meramente
iconográfica e estética, mas procurar estudar os símbolos
visando a sua interpretação.
O estudo do simbólico passou a ser contemplado
pela psicologia a partir de Freud e depois com Jung, os
quais não procuraram os símbolos em manifestações
culturais ou religiosas, mas tentaram identificá-lo na
psique do homem. Para a escola freudiana, a palavra
símbolo exprime, de modo indireto, figurado e difícil
de decodificar, o desejo ou os conflitos. Nessa lógica, o
símbolo seria a relação que une o conteúdo manifesto
de um comportamento, de um pensamento, de uma
palavra, ao seu sentido latente. Como afirma Eliade
(1991a, p. 8-9), para a psicanálise, as imagens, os
símbolos e os mitos não são criações irresponsáveis da
psique, mas respondem a uma necessidade e preenchem
um papel: revelar as mais íntimas modalidades
do ser. Assim, estudar os símbolos permitiria um
melhor conhecimento do homem.
Enquanto Freud via o inconsciente como uma espécie
de “quarto de despejos” dos desejos reprimidos
(Jung, 1977, p. 12), Jung concebia-o como um mundo
tão real e vital para a vida de um homem como é o
consciente. Os elementos (linguagens e pessoas) do
inconsciente seriam os símbolos, que, através dos sonhos,
poderiam se comunicar com o mundo consciente.
Para Jung, os símbolos presentes nos sonhos não podem
ser decifrados ou interpretados por meio de um
manual ou glossário. Por serem “uma expressão integral,
importante e pessoal do inconsciente particular
de cada um”, os símbolos selecionados pelo inconsciente
individual de certa pessoa (durante o sonho) têm
um sentido que lhe diz respeito e a mais ninguém. Por
isso, o autor considera a interpretação dos símbolos
presentes nos sonhos uma tarefa unicamente pessoal
e particular, que não pode ser realizada empiricamente.
Para Jung, um símbolo é:
[...] um termo, um nome ou mesmo uma imagem
que nos pode ser familiar na vida diária,
embora possua conotações especiais além de
seu significado evidente e convencional. Implica
alguma coisa vaga, desconhecida ou
oculta para nós (Jung, 1977, p. 20).
Assim, para a escola junguiana, uma palavra ou
imagem é considerada simbólica no momento em que
implica algo além de seu significado manifesto e imediato,
algo que não pode ser precisamente definido ou
explicado. Por este motivo, ou seja, por haver várias
coisas que não podemos compreender, é que, para
Jung (1977, p. 21), frequentemente usamos termos
simbólicos para representar conceitos que não conseguimos
definir completamente. Um exemplo é a
utilização de linguagem simbólica e de imagens pelas
instituições religiosas.
Somente em 1953 foi fundada, por M. Engelson, em
Genebra, a primeira sociedade destinada ao estudo
dos símbolos, Société de Symbolisme, que se reúne em
Genebra, Bruxelas e Paris e publica seus artigos no
Cahiers Internationaux de Symbolisme. Em associação
com o Psycology Department (Universidade Estadual
da Geórgia), formou-se nos Estados Unidos a International
Society for the Study of Symbols, cuja publicação
é intitulada International Journal of Symbology. Além
disso, muitas instituições científicas contribuem de
diversas formas para o estudo dos símbolos, como o
Instituto C. G. Jung de Zürich, The Mediaeval Academy
of America, fundada em Cambridge em 1925, com a
publicação Speculum, e a Fundação Ludwig Keimer
(Basileia) que, em associação com o Instituto Ticinese
di Alti Studi (Lugano), realiza conferências cuja ênfase
está na arqueologia e na etnologia.
Para Eliade (1991b, p. 205-206), dentre os fatores
que contribuíram para generalizar o interesse pelo estudo
dos símbolos na atualidade, pode-se citar: as
descobertas da psicologia de Freud e Jung de que
a atividade do inconsciente é apreensível através da
interpretação das imagens, o surgimento da arte abstrata
(início do século XX), as experiências poéticas
surrealistas após a Primeira Guerra Mundial e as pes-
48
Emílio Soares Ribeiro
quisas dos etnólogos, principalmente acerca das ideias
de Lucien Lévi-Bruhl sobre a estrutura e as funções
da “mentalidade primitiva”, ideias estas que instigaram
muitos filósofos europeus a estudarem o mito e
o símbolo. Eliade (1991b) fala ainda da importância
dos estudos realizados por epistemólogos e linguistas,
buscando mostrar o caráter simbólico da linguagem e
das artes.
Em sua classificação4 das teorias que embasam as
pesquisas míticas contemporâneas, Edmond Leach
(apud Grimal 2000, p. VII) inclui na perspectiva simbolista
de análise mitológica o grupo dos teóricos que
veem o mito como uma forma diferente de exprimir o
pensamento, a cultura e o modo de observar o mundo.
Para Pierre (2000, p. IX), teóricos tão diferentes como
Ernst Cassirer, Sigmund Freud, Carl Gustav Jung,
Károly Kerényi, Walter Friedrich Otto, Mircea Eliade,
Paul Ricoeur ou Gilbert Durand têm em comum o fato
de:
[...] admitirem o símbolo, tautegórico, que
se afirma a si próprio, implicando a intervenção
de reacções fundamentais, como a
actividade física e a vontade. Trata-se de
um outro tipo de linguagem, colectiva, mais
emotiva e rica, exprimindo o que não pode
ser expresso directamente no falar corrente.
Os mitos dirigem-se, pois, não apenas ao
entendimento, mas, também, à fantasia e à
realidade (Pierre, 2000, p. IX).
Como se pode observar, formação, agenciamento
e interpretação dos símbolos são interesse de várias
disciplinas: a história das civilizações e religiões, a
linguística, a antropologia cultural, a crítica de arte,
a psicologia, a medicina, a publicidade, a semiótica
etc. De fato, todas as ciências do homem, assim como
todas as formas de arte, estão envolvidas com o simbólico,
embora cada uma tenha sua própria concepção
e aplicação da designação “símbolo”. Segundo Eliade
(1991b, p. 207), embora o simbolismo seja estudado
segundo diversas perspectivas, devido ao forte vínculo
que há entre as disciplinas humanas, qualquer descoberta
relevante de uma área traz contribuições para
as outras. Assim, ideias acerca do simbólico próprias
da psicologia, por exemplo, muitas vezes interessam à
ciência das religiões. Ainda que as contribuições e o
sentido do simbólico sejam diferentes em cada disciplina,
não se pode negar que o assunto é o mesmo.
Um dos sentidos de um símbolo só é apreendido
por meio da análise das condições em que aparece, de
como se comporta e de sua consequente finalidade. Tecer
análises que apenas produzem conjecturas sobre o
sentido do símbolo vai de encontro ao que Cirlot (1984,
p. 41) pensa quando afirma que “o realismo que vê no
fabuloso uma cópia alterada ou uma confabulação de
elementos diversos, tampouco faz algo senão subministrar
uma explicação secundária sobre a problemática
“origem”, sem penetrar a razão de ser deste ente”. Para
o autor, afirmar, por exemplo, que a imagem de um
morcego gerou a ideia de hipogrifo, de quimera e de
dragão é fornecer um elemento ínfimo a respeito do
valor significativo e simbólico de tais animais mitológicos.
Lurker (1997, p. 667) compartilha com tal ideia e
diz que a análise e interpretação simbólicas devem ser
isentas de perspectivas ideológicas e de associações
precipitadas.
Contrariando tal ideia, alguém afirmaria que a famosa
e frequente associação entre a árvore e a serpente,
por exemplo, deve-se unicamente à observação (que
ocorre nos países em que há serpentes) de que tais
répteis fazem seus antros ao pé das árvores. Mesmo
sem descartar a possibilidade de tal ideia, observamos
que ela não explica, por exemplo, o sentido deste
símbolo na história da tentação bíblica. O simbólico
vai mais além. Neste caso, vários aspectos remetem à
relação análoga que há entre a serpente e a árvore: o
seu caráter linear, a semelhança da serpente com as
raízes, a dualidade bem e mal (enquanto a árvore eleva
os ramos ao sol, como adoração, a serpente espera por
sua presa para matá-la).
Segundo Cirlot (1984, p. 5), a redução ou especialização
extrema do sentido de um símbolo costuma
ter como consequência a degradação do significado,
tornando-o uma insignificância alegórica ou atributiva.
No instante em que resumimos a análise do símbolo da
serpente e da árvore ao fato de as serpentes se aninharem
junto às árvores, estamos apenas utilizando uma
constatação para explicar, sem mencionar elementos
referentes à relação interna entre os símbolos.
É certo que, ao explicarmos o simbólico, sempre
resta algo intraduzível. Isso ocorre porque, como já
mencionado anteriormente, o símbolo aponta para algo
que está ausente, representando-o, mas sem apreender
todas as suas possibilidades. Um símbolo, como
afirma Lurker (1997, p. 657), não é composto de formações
rígidas, que podem ser facilmente e precisamente
delimitadas, mas mutáveis e, em muitos casos, ambíguas.
De fato, ordena significados análogos, cada um
em um certo nível, ou seja, revela diferentes sentidos
simultaneamente. Segundo Hampate (apud Chevalier;
4 Edmond Leach classifica as teorias que embasam as pesquisas míticas contemporâneas em três grandes tipos: teorias funcionalistas,
teorias estruturalistas e teorias simbolistas. De acordo com tais perspectivas, o mito constitui-se como uma ciência, dotada de metodologias
próprias, que atua em várias direções e se apoia em diversas áreas, dentre elas, a psicologia, a sociologia, a etnologia, a história das religiões,
a linguística, a gnosiologia, a antropologia etc. (Pierre, 2000, p. VII).
5 Os Fulani, Fula ou Phoulah são um grupo étnico nômade que compreende várias populações espalhadas pela África Ocidental, desde
a Mauritânia a noroeste até aos Camarões a leste. A língua fula (também chamada peul em francês e fulani em inglês) é falada entre 10 e
16 milhões de pessoas e tem um status de língua oficial na Mauritânia, Senegal, Mali, Guiné, Burkina Faso, Níger, Nigéria e Camarões.
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estudos semióticos, vol. 6, no 1
Gheerbrant, 2001, p. XXIV), na lenda fula5 de Kaydara,
o velho mendigo (o iniciador) diz a Hammadi (o
peregrino, em busca de conhecimento): “Ó meu irmão!
Aprende que cada símbolo tem um, dois, vários sentidos.
Esses significados são diurnos ou noturnos. Os
diurnos são favoráveis, e os noturnos, nefastos”.
Tendo como base essa multiplicidade de sentidos de
um símbolo, entende-se que cada representação simbólica
funciona como o centro de uma teia, que está
ligado a diversas outras teias com seus respectivos
centros. R. de Becker (apud Chevalier; Gheerbrant,
2001, p. XXII) diz algo semelhante quando afirma que
o símbolo pode ser comparado a um cristal que reflete
de maneiras diversas uma luz, conforme a faceta que
a recebe. Nesse sentido, Todorov (Chevalier, 2001,
p. XXIV) considera que no símbolo é produzido um
fenômeno de condensação, ou seja, um significante remetendo
a mais de um significado. Assim, um símbolo
representa diversos objetos que, por sua vez, funcionam
como representação de diversos outros objetos,
em uma cadeia infinita.
A percepção do símbolo é também pessoal. Em
seu processo de formação, o ser humano acrescenta,
às experiências pessoais, valores culturais e sociais
herdados da humanidade que o precedeu até então.
O símbolo tem precisamente essa propriedade
excepcional de sintetizar, numa expressão
sensível, todas as influências do inconsciente
e da consciência, bem como das forças instintivas
e espirituais, em conflito ou em vias
de se harmonizar no interior de cada homem
(Chevalier, 2001, p. XIV).
Assim, a compreensão de um símbolo depende fortemente
da percepção direta, possibilitada pelo repertório
pessoal. Análises históricas, comparações
interculturais, pesquisas acerca das interpretações
provindas das tradições orais e escritas e prospecções
da psicanálise contribuem para tornar tal interpretação
mais completa e menos arriscada. Wirth (apud
Chevalier; Gheerbrant, 2001, p. XXII) complementa
tal ideia, afirmando que “é próprio do símbolo o permanecer
indefinidamente sugestivo: nele, cada um vê
aquilo que sua potência visual lhe permite perceber.
Faltando intuição, nada de profundo é percebido”.
Visto tal subjetividade e sugestividade dos símbolos,
cada análise torna-se produto de um ponto de vista
e não deve almejar esgotar, nem ao menos relativamente,
nenhum dos domínios referentes à concepção
de representação simbólica, mas procurar unir a compreensão
do papel significativo do símbolo em estudo
à interpretação de alguns de seus múltiplos sentidos,
em favor da autoridade das obras estudadas.
3. O símbolo para Charles
Sanders Peirce
A noção de “representação”, relacionada à ideia de
signos, símbolos, imagens e a outras formas de substituição,
é alvo de interesse dos estudos semióticos
desde a escolástica medieval, que a definia, de maneira
geral, como “o processo de apresentação de algo
por meio de signos”. Para Santaella e Nöth (1999,
p. 16), o próprio conceito inglês “representation(s)”,
ao ser concebido como sinônimo de signo, explica a
concepção de “representação”.
Para Peirce (1958, CP, 2.273), representação é a apresentação
de um objeto a um intérprete de um signo
ou a relação entre o signo e o objeto. Assim, o autor
define representar como “estar para”: o signo, para
certos desígnios e relacionando-se a outra entidade, é
tratado por alguma mente como se fosse aquilo que ele
representa. Por exemplo, uma foto ou uma pétala seca
que levamos em nossa carteira e que foi dada por uma
pessoa muito especial representa essa pessoa, para
quem se dirige a concepção de reconhecimento. De
fato, ao carregar a foto ou pétala seca, uma pessoa estará,
de certa forma, trazendo para perto de si a outra
pessoa, pois gostaria que estivesse sempre consigo. No
momento em que não pode estar presente, essa pessoa
está ali simbolizada e seu significado, aproximado por
meio dos símbolos que a representam.
[...] qualquer palavra comum, como “dar”,
“pássaro”, “casamento”, é um exemplo de símbolo.
Ele é aplicável a tudo aquilo que possa
concretizar a ideia relacionada à palavra. O
símbolo não é capaz de identificar, por si próprio,
as coisas às quais se refere ou se aplica.
Ele não mostra um pássaro, nem nos faz ver
um casamento, mas supõe que somos capazes
de imaginar tais coisas, associando a elas
a palavra (Peirce, 1958, CP, 2.298).
Assim, como no caso do retrato e da pétala seca representando
uma pessoa especial, o símbolo constrói
uma relação com seu objeto por meio de uma ideia na
mente do intérprete6.
Peirce (1958, CP, 2.307) define o símbolo como “um
signo que se constitui como tal simplesmente ou principalmente
pelo fato de ser usado e entendido como
tal, quer o hábito seja natural ou convencional, e sem
se levar em conta os motivos que originalmente governaram
a sua seleção”. O autor assemelha a sua
concepção de símbolo à noção de “thema”, termo proposto
por Burgersdicius, em 1635, em seu estudo
sobre lógica. O thema, assim como o símbolo, seria
“um signo que, assim como uma palavra, está associado
a seu objeto por uma convenção”, ou ainda “por
6 Ideia esta que Peirce chama de interpretante. Um signo põe algo no lugar da ideia que ele produz ou modifica. O objeto é aquilo que
ele substitui; o significado é o que ele coloca em seu lugar; o interpretante é a ideia que ele faz surgir.
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Emílio Soares Ribeiro
um instinto natural ou por um ato intelectual que o
concebe como representativo de seu objeto, sem que
haja necessariamente alguma ação que possa estabelecer
uma conexão factual entre signo e objeto” (Peirce,
1958, CP, 2.308).
Diferentemente do ícone e do índice, o símbolo é um
signo que estabelece uma relação com seu objeto por
meio de uma mediação, ou seja, as ideias presentes no
símbolo e em seu objeto se relacionam a ponto de fazer
com que o símbolo seja interpretado como se referindo
àquele objeto, isto é, fazendo com que o símbolo represente
algo que é diferente dele. Assim, o símbolo se
relaciona com seu objeto devido a uma ideia presente
na mente do usuário, um hábito associativo, uma lei,
chamada por Peirce de “interpretante lógico”. Este,
como mostra Santaella (2005, p. 264), corresponde à
lei ou regra interpretativa que “guia a associação de
ideias ligando o símbolo a seu objeto”.
Assim, um signo funciona como símbolo se, em relação
ao objeto que ele representa, for um legi-signo,
ou seja, uma lei que é um signo. Sobre o conceito de
lei, Santaella diz que:
A lei funciona, portanto, como uma força
que será atualizada, dadas certas condições.
Por isso mesmo, a lei não tem a rigidez de
uma necessidade, podendo ela própria evoluir,
transformar-se. Contudo, em si mesma,
a lei é uma abstração. Ela não tem existência
concreta a não ser através dos casos que
governa, casos que nunca poderão exaurir
todo o potencial de uma lei como força viva
(Santaella, 2005, p. 262).
Para a autora, a lei de interpretação já está contida
no próprio signo, permitindo que produza um signo
interpretante ou uma série de signos interpretantes.
Dessa forma, o signo é interpretado como sendo signo
devido à lei, porque o legi-signo funciona como uma
regra que determinará seu interpretante.
A autora ainda cita a linguagem verbal como um
exemplo claro de legi-signo. No momento em que fazem
parte do sistema de uma língua, as palavras são interpretadas
de acordo com as leis desse sistema. Assim
como todos os tipos de legi-signos, as palavras, por
exemplo, só ganham existência concreta através de
suas manifestações, chamadas por Peirce de “réplicas”.
Para Santaella e Nöth (1999, p. 65), sem o ícone,
o símbolo nada significaria e, sem o índice, perderia
seu poder de referência. Assim, o símbolo contém
dentro de si elementos de iconicidade e elementos de
indicialidade.
De fato, o símbolo em si mesmo não mostra sobre
o que está falando. Para que o símbolo, tipo geral,
se aplique a um caso específico e consequentemente
se conecte ao seu objeto, ele necessita de um índice.
Como mostra Santaella (2005, p. 268), “o poder de
referência, poder indicativo do símbolo vem de seu ingrediente
indicial”. Quando se refere à palavra “anel”,
por exemplo, o objeto dessa palavra é um tipo geral
que nenhum caso especial de anel pode englobar por
completo. Diferentemente, em “anel élfico”, a designação
“élfico” indica a procedência do anel e, portanto,
refere-se a um caso ao qual o geral se aplica (embora
“élfico” dependa do ícone mental daqueles que utilizam
a palavra).
Mesmo que forneçam todo o poder de referência
que um símbolo possui, os índices não são capazes
de significar, razão pela qual o símbolo necessita de
um ícone. A parte exclusivamente simbólica de um
símbolo (conceito ou sentido) corresponde ao hábito
geral, que precisa ser atualizado pelo ícone que integra
o símbolo, produzindo significado. Santaella (2005, p.
269) ilustra tal concepção com um exemplo claro. Ela
diz que “nossa ideia geral, digamos, de um gato, por
exemplo, seria a fusão resultante de imagens decorrentes
das situações repetidas de experiências sensórias
mais determinadas e muito diferenciadas de gatos particulares”.
Com base nesses princípios, percebe-se que
a ideia geral corresponde à forma ou unidade imediatamente
percebida, ou seja, o ícone (qualidades que
atualizam o conceito ou hábito geral que é o símbolo).
De fato, o símbolo, em si mesmo, não possui existência
concreta. Peirce (1958, CP, 2.301) ilustra tal
ideia com o exemplo da palavra “estrela”. Para o autor,
ao escrevermos ou pronunciarmos “estrela”, estamos
apenas produzindo uma réplica da palavra, e não a
própria coisa. Embora se refira a algo real, a palavra
em si mesma não possui existência concreta. Consiste
em uma sequência de sons, ou representamens de
sons (Santaella, 2005, p. 262), que se torna signo
por meio de um hábito ou lei que faz os intérpretes a
compreenderem como significando uma estrela.
Desse modo, ao escrevermos a palavra, não a estamos
criando. Igualmente, no momento em que a
apagamos, não a estamos destruindo. Ela permanece
viva no espírito dos que a usam, mesmo que estejam
adormecidos.
Nasser (2003, p. 6) contraria a concepção peirceana
de símbolo como lei ou legi-signo (uma regra que permite
a interpretação do símbolo como se referindo a
um certo objeto), ao falar em destruição de um símbolo.
Para a autora, no instante em que um símbolo perde
sua função de representar, ele morre. Ao contrário,
para Peirce (1958, CP, 2.301), o símbolo vive na mente
daqueles que o utilizam, mesmo que ele não esteja
presente. Como exemplo, Santaella e Nöth dizem que:
[...] mesmo que a palavra não esteja mais
viva, em uso por seus falantes, como é o caso
das línguas mortas, nem assim ela perderá
seu poder de denotar e significar, pois este
poder lhe é dado por seu caráter de lei, num
51
estudos semióticos, vol. 6, no 1
sistema de leis que é a língua de que ela é
parte (1999, p. 64).
O objeto representado por um símbolo é tão abstrato
quanto ele. Para Santaella e Nöth (1999, p. 64), o
objeto corresponde a uma ideia a que a palavra está
ligada. Tomemos, como exemplo, a sucessão de sons
e a representação escrita de sons “casa”. Cada manifestação
concreta e diferente de “casa”, seja ela oral
ou escrita, inclusive esta que acabo de escrever, será
apenas uma réplica da palavra enquanto lei. E é no
cerne dessa lei que reside a forma abstrata da imagem.
Portanto, podemos até apagar uma imagem ou
palavra que produzimos para simbolizar algo, mas, ao
fazê-lo, não estaremos de maneira alguma destruindo
as formas abstratas que correspondem ao símbolo e
seu objeto.
Assim, a relação entre símbolo e objeto, de caráter
convencional, advém do legi-signo que determina o
interpretante. A associação de ideias que se realiza,
através de regra interpretativa, na mente do intérprete
forma o interpretante, que é o responsável pela conexão
entre o signo e seu objeto. Entretanto, Santaella
(2005, p. 266) mostra que, ao interpretar um determinado
legi-signo simbólico, nenhum intérprete é capaz
de esgotar sua generalidade. Decorre daí a aptidão do
símbolo para mudanças, decorrentes, por exemplo, de
alterações no hábito interpretativo de certo símbolo,
visto que os interpretantes lógicos podem ser modificados.
Vê-se então que, embora um símbolo dependa de
uma convenção, o seu significado pode variar com o
tempo e de acordo com a perspectiva através da qual
se analisa, uma vez que é, como afirmou Short (apud
Santaella, 2005, p. 266), “um signo em crescimento
nos interpretantes que ele gerará”.
Referências
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de Ivone Cartilho Benedetti. São Paulo: Martins
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2005. Matrizes da linguagem e pensamento. São
Paulo: Iluminuras.
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1999. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo:
Iluminuras.
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Dados para indexação em língua estrangeira
Ribeiro, Emílio Soares
A Study about the Symbol Based on Peirce’s Semiotics
Estudos Semióticos, vol. 6, n. 1 (2010), p. 46-53
issn 1980-4016
Abstract: We live surrounded by symbols, from the waving hands in a farewell to the alphabet we use to speak
and write. Although literature about the symbolic brings diverse reductionist definitions for the word “symbol”, it
is true that, while explaining the symbolic, there will always be something untranslatable, because the symbol
points to something that is absent, representing it, but without apprehending all its possibilities. The reduction
or extreme specialization of a symbol’s meaning usually leads to its degradation, making it an allegorical or
attributive insignificance (Cirlot, 1984, p. 5). Besides that, the perception of the symbol is also personal, since,
in its formation process, human beings add to their personal experience cultural and social values, which are
inherited from previous generations. In this sense, the current article aims at discussing the symbolic based on
Charles Sanders Peirce, in order to show how such a sign is constituted and understood in the semiotics founded
by the referred American author. Before that, however, in the first part of this paper, it is necessary to make some
general remarks about the term “symbol”, its origins and the various concepts it receives. Then, in the second
part, we focus on the comprehension and interpretation of symbols in general. We expect the current reflection to
make clear the role of the symbol in semiotic studies, and to justify interpretations and analysis of the symbol in
literature, cinema and culture.
Keywords: symbol, Peirce, interpretation
Como citar este artigo
Ribeiro, Emílio Soares. Um estudo sobre o símbolo, com
base na semiótica de Peirce. Estudos Semióticos. [on-line]
Disponível em: h http://www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es i.
Editores Responsáveis: Francisco E. S. Merçon e Mariana
Luz P. de Barros. Volume 6, Número 1, São Paulo,
junho de 2010, p. 46–53. Acesso em “dia/mês/ano”.
Data de recebimento do artigo: 29/11/2010
Data de sua aprovação: 02/04/2010

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