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segunda-feira, janeiro 16

Bar Mitsvá (significado de imposição das maos)

Bar Mitsvá

Em tempos proféticos de restauração, é necessário refletirmos sobre a cultura bíblica, pois, muitas pessoas ao anunciarem o evangelho de forma transcultural não sabem o risco em que estão pondo a essência do evangelho. Ao anunciar o evangelho é necessário deixar claro que, o que deve ser feito, é a contextualização do evangelho à uma cultura e não a transculturalização do mesmo. O evangelho tem uma cultura própria, uma cultura que D-us deu a um povo no cume de um monte. As nações do mundo têm suas raízes em culturas politeístas e estranhas; mas Israel não, sua cultura gira em torno do culto ao D-us de Abraão, Isaac e Jacó e não a divindades indígenas, helênicas ou babilônicas. Por outro lado, é claro que nem tudo que tem há na cultura judaica é bíblico; mas basicamente existem princípios na cultura de Israel que talvez não foram ordenados na Bíblia, mas que possuem princípios bíblicos para sua prática. Nenhuma cultura do mundo põe uma Kipá (que não foi ordenado na Bíblia) para declarar sua submissão ao D-us Único e Verdadeiro (ADONAI); nenhuma cultura do mundo ensina a uma família que se deve levar um filho aos seus 13 anos para lhe impor as mãos, abençoando-o e liberando-o para se tornar um Filho do Mandamento. Somente o povo de Israel faz isto. E estes costumes devem ser analisados, pois o próprio Yeshua (Jesus) praticou tradições judaicas que nunca foram ordenadas pelo Tanách (Antigo Testamento), mas que eram verdadeiros costumes do próprio povo judeu, que se tornaram instrumentos de Bênção para a Nação de Israel. Exatamente sobre uma destas tradições é que iremos comentar agora: A cerimônia do Bar ou Bat Mitsvá e (Filho ou Filha do Mandamento).

Bar Mitsvá

Bar Mitsvá quer dizer literalmente Filho do Mandamento. Trata-se de uma cerimônia judaica em que um menino (ou menina aos 12) ao completar 13 anos de idade, é levado geralmente para uma sinagoga, onde este é abençoado publicamente por seus pais, que o declaram independente religiosamente, ou seja, que a partir deste ato, o menino tem responsabilidade própria diante de D-us da prática dos mandamentos e de Sua própria santidade. É como relata a tradição oral dos judeus: "... aos treze anos já está sujeito ao cumprimento dos mandamentos [mitzvot]"(Pirkêi Avót Ética dos Pais). É interessante notar que este ato tão belo e emocionante, remonta a tempos bem remotos, pois a tradição de abençoar um filho vem dos tempos patriarcais: "... tomou Yosef (José) a ambos, a Efraim na sua mão direita, à esquerda de Israel, e a Manasses na sua esquerda, à direita de Israel, e fê-los chegar a ele. Mas Israel estendeu a mão direita e a pôs sobre a cabeça de Efraim, que era o mais novo, e a sua esquerda sobre a cabeça de Manasses, cruzando assim as mãos, não obstante ser Manasses o primogênito... Assim, os abençoou [Yaakov - Jacó] naquele dia, declarando..."(Gn. 48:14,15 e 20). Vê-se também o valor que Yaakov (Jacó) dava à bênção de seu pai na disputa pela primogenitura com seu irmão Esaú: "Respondeu Yaakov (Jacó) ao seu pai: Sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me ordenaste. Levanta-te, pois, assenta-te e come da minha caça, para que me abençoes" (Gn. 27:19). Mas o que havia (ou há) de tão valioso em um ato que parece ser tão simples? Para que haja uma melhor compreensão, deste ato vamos analisar o profético significado da palavra abençoar.

[1]Abençoar, em hebraico se diz Barách (&rb) palavra que também pode significar: conceder poder à alguém para ser bem sucedido e próspero. Além disso , pode significar bendizer, presentear, agraciar bem, “fazer ajoelhar”.. Esta última definição é interessante, porque faz referência direta ao ato de ajoelhar-se para receber uma bênção. Isto se deve ao fato de que ao ajoelhar o Bar Mitsvá, ele expressa perante o Eterno a sua absoluta submissão a D-us e ao que está abençoando, pois é notório que devemos prestar submissão às nossas autoridades, ainda mais ao sacerdócio patriarcal de um pai de família.

É interessante notar também que o termo ‘Bar’ [rb] filho, tem uma semelhança com a palavra Barách: à rb(filho) e &rb (abençoar); a diferença está em uma letra hebraica. Concluímos com isto que, até etimologicamente a relação Bênção à Filho é estritamente compatível. Os filhos existem para serem abençoados, para ajoelharem-se reconhecendo o Senhorio de Adonai, bem como a autoridade patriarcal de uma família que o ama, e para que este seja o alvo prioritário de todas as bênçãos de D-us.

Vale ressaltar as interessantes variantes do termo hebraico [Br - rb]: Bar – puro, Bar – trigo, Bár – campo aberto, Bor – pureza, Bôr – “sabão”. Ou seja, D-us quer que nossos filhos sejam puros e limpos. A cerimônia de Bar Mitsvá declara sobre o mancebo uma benção para que este mantenha puro os seus caminhos no Senhor como diz o Salmo 119:9: "De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a sua palavra" . Vemos novamente uma relação no hebraico: rbd (Davar = Palavra)

Com “Bar” (observe a terminação em negrito...), ou seja, o Bar Mitsvá é um convite para ajoelhar-se em reconhecimento à autoridade do Eterno; é um convite para ser puro e frutífero e, principalmente, observar a Palavra do D-us de Israel.

Alguns Detalhes sobre a Cerimônia no Judaísmo

No Judaísmo o Bar Mitsvá é uma grande festa. Toda criança judia anseia por este dia, quando, finalmente, o menino judeu se tornará um “homenzinho” e receberá a bênção de seu pai. Neste dia, o Bar Mitsvá recebe presentes de amigos e parentes, veste uma roupa nova e perante toda a Congregação ele lerá pela primeira vez, em hebraico, o Rolo da Torá como Maftír[2]. Em algumas comunidades tem-se o costume de convidar o Bar Mitsvá para fazer uma (Drash) prédica. Alguns judeus da Diáspora costumam subir a Jerusalém para celebrar esta festa no que sobrou do Templo, o HaKôtel HaMaaraví ou Muro Ocidental (Muro das Lamentações). E a bênção tradicional costuma ser: "Bendito sejas, que me isentaste da responsabilidade deste. Aquele que abençoou a nossos pais Abraão, Isaac e Jacob, abençoará (o nome do filho), filho de (o nome do pai), porquanto subiu à Torá em honra de D-us... Em função disto, o Santo, Bendito Seja Ele, guardá-lo-á e livrá-lo-á de toda angústia e aperto, e de toda ocorrência e enfermidade, e mandará bênção e sucesso em todos os seus atos junto a todos seus irmãos de Israel; e digamos amém"(Sidúr Completo pág. 358 - Ed. Sefer). Neste momento, todos se alegram, pois o menino acabara de transferir sua dependência espiritual que era paterna até este momento, à dependência de Adonai. Momento sublime este quando os pais entregam seu filho ao D-us Único, transferindo para ele o maior presente de Bar Mitsvá: O ETERNO!

Yeshua, celebrou o Bar Mitsvá?

Foi baseado nestes princípios milenares que, o maior judeu do mundo, Yeshua Bar Yosef (Jesus, filho de José) fez seu Bar Mitsvá. Yeshua não foi um cristão, nem se quer existia este termo em sua época. Na verdade, ele tinha uma vida piedosamente judaica, e, como jovem judeu, ao completar seus 12 anos, ou seja, entrando nos 13, Yeshua com seus pais não perderam a oportunidade da celebração de uma das 3 Festas de Peregrinação (Dt.16:16), naquela ocasião, a Páscoa. É bem provável que seus pais aproveitaram o momento para que fosse celebrado seu Bar Mitsvá como diz a Palavra: "Ora, anualmente iam seus pais a Jerusalém, para a Festa de Páscoa. Quando ele completou os doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa" (Lucas 2:41 e 42). Assim sendo, observe o que disse o versículo anterior: "Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de D-us estava sobre Ele (v.40). A maturidade de Yeshua estava exigindo seu Bar Mitsvá, mesmo antes da cerimônia propriamente dita, ele já mostrava traços de autonomia espiritual, pois a ‘graça de D-us repousava sobre Ele.

E esta ‘Graça’ especial foi externada de maneira ainda mais clara no momento de sua ‘Drash’ (pregação sobre a Toráh) como diz os versos 46-48a: "Três dias depois, o acharam no Templo, assentado no meio dos doutores [estudiosos da Torá], ouvindo-os e interrogando-os, e todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas. Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados..." . Agora ele estava liberado espiritualmente de seus pais, e quando estes lhe questionaram por que havia desaparecido, este lhes perguntou: "... Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2:49). Resumindo: É bem possível que Yeshua fez seu Bar Mitsvá, seus pais declararam como na bênção tradicional: "Bendito sejas, que me isentaste da responsabilidade deste". Ele debateu com os sábios da Torá no modo judaico de discussão “interrogando-os”, e seus pais quando o encontraram, questionaram seu desaparecimento, este simplesmente requereu seus direitos de Bar Mitsvá, sua espiritualidade é de responsabilidade agora do PAI ETERNO “... me cumpria estar na casa de meu Pai” (v.29).

É impossível negligenciarmos estes princípios, que são judaicos, mas acima de tudo bíblicos e, por isso, dando-nos lições maravilhosas. Todos os discípulos do Messias, judeus ou gentios, devem ter estes princípios em suas vidas, nossos filhos são do Eterno, a Ele pertence a autoridade. É claro que isto não exclui a responsabilidade educacional dos pais, mas, deve-se abençoar profeticamente aos nossos filhos para que eles sejam bem sucedidos em tudo quanto eles fizerem.

Termino com a palavra de ânimo de Shaúl HaShalíach (Paulo, o Apóstolo do Messias) ao judeu Timóteo, com certeza trazendo em lembrança a cerimônia de Bar Mitsvá do mesmo: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé no Messias Yeshua” (II Tm 3:14 e 15).

Para nós judeus messiânicos é claro seguir a tradição do Bar Mitsvá. Mas, os gentios cristãos podem seguí-la? Cremos que sim. Podemos citar pelo menos dois motivos: Primeiro, todos os cristãos devem seguir as boas tradições, quer sejam elas orais ou escritas como diz Paulo ( 2Tim 2:16). O Bar Mitsvá é uma boa tradição, quando o pai abençoa o filho, liberando-o para que o mesmo seja bem sucedido e próspero; segundo, a Igreja gentílica foi enxertada na Oliveira que é o Israel de D-us. Assim, ela participa e é co-herdeira das bênçãos e promessas de nosso pai Abraão, participando da mesma raiz e seiva desta oliveira ( Gal 3:29 e Rom 11:17).

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[1] Para maiores detalhes do termo ‘abençoar’ adquira o volume 12 da Revista Ministério Ensinando de Sião, a matéria “Restaurando Palavras ‘Barách’”, matéria escrita pelo Reb Marcelo M. Guimarães.

[2] A última pessoa a ler a Torá é o Maftír e o mesmo é também convidado para a leitura da porção sabática dos profetas. (A 7.ª Pessoa a fazer Aliá LeTorá – Subida ao Rolo da Torá).

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