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terça-feira, outubro 4

I - O que é Teologia Moral


I - O que é Teologia Moral
 
Como insinua o próprio nome, Teologia Moral (TM) é o estudo científico  dos costumes (= “mores”,  em latim) humanos, mediante princípios da fé e da razão, em relação ao Fim Supremo do homem.
O objeto material da TM são, pois, os atos humanos, realizados com livre consentimento da vontade. O objeto formal soa os atos humanos enquanto dirigidos para o Fim Supremo, que é Deus, conhecido à luz da Revelação, iniciada na época dos patriarcas bíblicos (Abraão, Isaac, Jacó...), consumada por Jesus Cristo e a nós transmitida pelo Magistério da Igreja. .
A TM é, portanto, uma parte da Teologia (ciência sobre Deus). Procura deduzir da Palavra de Deus as normas concretas que levam a pessoa humana à sua plena realização, isto é ao seu Fim Supremo.
A Moral cristã não é um sistema de preceitos e  proibições, que ensinaria o cristão a tranqüilizar sua consciência como o mínimo de incômodos. A TM, como a Igreja a quer, tende a levar os homens a realização de sua vocação suprema, que é a vocação à perfeição e à santidade. Nenhuma criatura é chamada à mediocridade.
Por isto, vejamos alguns traços da moral cristã:
 
1. Seguir o Cristo.
Ser cristão não é somente professar a doutrina, mas, acima de tudo, estar inserido em Cristo, aderir à sua pessoa e, consequentemente, à sua doutrina. É de dentro do coração do homem que devem proceder os ditames  de sua vida moral.
Isto não quer dizer que a TM seja meramente subjetiva (deduzida do íntimo do sujeito). O cristão deve procurar formar sua consciência  de acordo com a Lei de Deus, que lhe é comunicada por instancias objetivas, existentes fora dele (o tripé da Revelação: Bíblia, Tradição e Magistério)
 
2. Viver em amor
O comportamento moral do cristão não é mais que uma resposta ao amor de Deus. Por isso, a Lei do Novo Testamento se resume em dois preceitos: o amor a Deus e o amor ao próximo (cf. Mt 22,37-40; Lc 12,28-31: Lc 10,25-28).
Este amor não é sentimental ou cego, inspirado por critérios de simpatia ou afinidade, mas pelo exemplo do próprio Cristo, que nos amou quando ainda estávamos sob o domínio do pecado. Isto significa que nosso amor deve saber sempre distinguir o certo do errado, a verdade e a mentira, odiando o erro e o pecado e amando sempre a pessoa que erra ou peca.
 
3. Participar da Páscoa de Cristo
 
O cristão é inserido em Cristo pelo batismo, a fim de tomar parte cotidiana na morte  e na ressurreição de Jesus. A vivência do batismo  é alimentada pela eucaristia. Pode-se então dizer que a moral está estritamente ligada à liturgia, pois é a vivência  consciente e voluntária dos sacramentos. É o desdobramento do programa de morte ao pecado (e ao velho homem) e da afirmação da nova criatura que o Batismo, a Eucaristia e os demais sacramentos nos impõem. .
A natureza humana é fraca e vulnerada pelo pecado, de modo que ela precisa da graça de Deus para se libertadas tendências desregradas e harmonizar-se. Por isso o homem precisa da ascese, isto é, de fazer certas renúncias para que possa atingir a perfeição espiritual. Não há vida cristã autêntica que não seja carregar a Cruz com Jesus de maneira consciente e voluntária. A cruz configura o cristão a Cristo e pode contribuir grandemente  para amortecer as paixões desordenadas do coração, libertando-o mais e mais para uma vida nova.
 
4. Glória a Deus e auto-realização do homem
 
A glória de Deus – fim supremo de toda criatura – é a felicidade ou auto-realizaçao do homem não se opõem entre si. Aliás, a procura da felicidade não raro é o ponto de partida de uma conversão a Deus e pode ser o estímulo que sustenta a caminhada. O cristão, ao progredir na via da perfeição, passa aos poucos a amar seus próprios interesses a partir de um novo fundamento, ou seja, a partir do amor que Cristo tem por ele.
 
II – O ato humano
Vimos que a TM é o estudo dos costumes  humanos. Agora é necessário indagar o que é ato humano e quais os fatores que nele  influem.
 
Chama-se ato humano àquele sobre o qual o homem tem domínio. Supõe conhecimento de causa e vontade deliberada por parte de quem age. Se falta a intervenção da vontade ou do intelecto, não há ato humano, mas apenas ato do homem.
Somente o ato humano (e não o ato do homem0 é sujeito de moralidade. Apenas a respeito do ato humano podemos dizer se ele é moralmente bom ou mal, porque somente em tal caso a pessoa se empenha com a sua responsabilidade..
São elementos constitutivos do ato humano:
-        conhecimento intelectual: a vontade não pode ser levada para um objeto sem antes conhecê-lo. Isto implica o querer, a deliberação;
-         vontade: tudo o que procede da vontade, após o conhecimento intelectual do fim, chama-se voluntário.
 
è Não são atos humanos:
a)      atos da vida vegetativa: digestão, respiração, batidas do coração..., pois estes são praticados de forma inconsciente, até durante o sono;
b)     atos de pessoa destituída de razão (loucas), embriagadas, hipnotizadas, como também os atos das crianças que não tenham uso da razão. Não são, em si, nem meritórios nem culpáveis;
c)     atos repentinos, que antecedem qualquer deliberação do sujeito; assim, uma palavra agressiva proferida, sem que a pessoa quisesse conscientemente proferir.
É de se notar, porém, que com o progresso da vida espiritual, o cristão deve mais e mais extirpar de si as raízes desses atos indeliberados, isto é, as paixões desregradas, das quais eles procedem.
Como se vê, o ato humano, sujeito da moralidade, é ato livre; sem liberdade não há responsabilidade.
No sentido moral, liberdade é a condição de um ser imune de qualquer coerção que o impeça  de tender, através de seus atos, à realização cada vez mais perfeita de sua natureza.
Há casos em que a liberdade humana (e por conseguinte, a responsabilidade moral) são prejudicadas, por medo, violência, cobiça, ignorância, maus costumes, hipnose, drogas, sugestão para o mal ou mesmo distúrbios psíquicos. Daí a necessidade de uma opção fundamental de vida, que para o cristão é Cristo.
 
è Critérios da moralidade
São três: objeto, finalidade e circunstâncias.
1.      O objeto do ato humano é a matéria sobre a qual versa este ato:  o amor ao próximo, a oração... que a Lei de Deus recomenda; o desrespeito à propriedade, que a Lei de Deus condena... Há, pois, atos que por seu objetos mesmo são bons ou maus. Há outros que, considerados em si, são moralmente indiferentes: comer, dormir, passear...
2.      A finalidade pode ser entendida como aquilo que move alguém a praticar determinado ato. É o bem (ou o mal) que a pessoa tem em vista ao agir.
3.      As circunstâncias são os fatores que contornam o ato humano. Podem ter repercussão na moralidade do mesmo. Enumeram-se sete circunstâncias capazes de modificar a moralidade: quem, o quê, onde, com que meios, por que, como, quando.
 
è A causa com duplo efeito
A questão da moralidade do ato humano se torna  mais difícil quando esta causa tem dois elementos: um principal, moralmente bom; outro secundário, moralmente mau. Tal caso pode acontecer, por exemplo, quando uma pessoa se dedica ao apostolado entre pessoas de vida não recomendável, a fim de as ajudar a sair desta situação. A frequentação dos respectivos ambientes, embora proceda de intenções puras, pode causa escândalo. Pergunta-se: como proceder em tais casos?
É lícito praticar um ato com duplo efeito (um bom e outro mau), desde que preencham as seguintes condições:
a)     o ato como tal (ou em si mesmo) seja bom ou indiferente. Nunca é lícito praticar o mal (mentir, adulterar, roubar...) mesmo que tal ato possa ser portador de efeitos salutares (cf. Rm 3,8);
b)     o efeito bom que se espera deve decorrer imediatamente do ato. E não pós o efeito mau. Este deve  ser secundário em relação àquele. Isto quer dizer, por exemplo, que para salvar a honra de uma moça solteira, não é lícito cometer o aborto.
c)     A finalidade de quem assim age deve ser honesta.  Em outras palavras: o sujeito deve intencionar diretamente  o efeito bom e apenas tolerar o efeito mau como algo não desejado, mas inseparável do efeito bom.
d)     Haja causa proporcionalmente grave para permitir o efeito mau. Isto significa que o efeito bom deve ser vultoso e importante  de modo a compensar o efeito mau.
e)     Não haja outro recurso para obter o efeito bom senão o da causa de duplo efeito.

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