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sexta-feira, dezembro 2

Sete Fatos que Você Deve Saber sobre Apocalipse


Fonte: http://www.theologicalmaster.com/   Prof. J. Donizet


 Poderíamos adotar uma de duas perspectivas para o estudo do Livro de Apocalipse: 
1) poderíamos iniciar o estu­do do texto imediatamente. Neste caso, eu, o autor, lhe diria o que você precisa saber sobre o livro no decorrer do estudo; 
2) ou poderíamos começar di­zendo muitas coisas que você precisa saber. Neste caso, quando estudássemos o texto, você estaria mais bem preparado para entender e apreciar cada página. Ambos os métodos possuem vantagens e desvantagens, mas optamos pelo segundo porque queremos que a sua jornada pelo Livro de Apoca-lipse seja o mais livre de infortúnios possível.
Nas seis primeiras lições desta série, vamos par­tilhar informações que você precisa saber para en­tender o Livro de Apocalipse. Nesta apresentação, vamos destacar sete fatos que você deve saber como pano de fundo ou dados históricos.

1. AUTOR
Na ERC, o título dado para o livro é “Apoca­lipse do Apóstolo São João”1. Todavia, as primeiras palavras do livro nos dizem que o volume não é a revelação de João, mas a “revelação de Jesus Cris­to”. João foi simplesmente testemunha e secretário de Jesus: “ele [Jesus], enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, o qual ates­tou… o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu” (1:1, 2).
2. O ESCREVENTE
O escrevente ou calígrafo de Apocalipse pro­vavelmente foi o apóstolo João2. Ele se identificou como “o seu servo João” (1:1). Ele era tão conhecido que presumiu que todos o identificariam pela sim­ples designação “João”. No Novo Testamento, o úni­co João que era proeminente era o apóstolo João3.
Desde os primórdios da igreja, a redação do Li­vro de Apocalipse tem sido atribuída ao apóstolo João. Entre os líderes da igreja primitiva que o ci­taram como escritor do livro estão Papias (c. 135), Justino Mártir (c. 150) e Irineu (c. 185). Segundo es­ses autores do início da igreja, o apóstolo João mu­dou-se para Éfeso perto da época da destruição de Jerusalém (70 d.C.) e foi um líder destacado na Ásia Menor, durante os vinte e cinco anos seguintes. En­quanto esteve ali, ele ficou exilado na ilha de Pat­mos, onde recebeu a Revelação de Jesus.
Podemos encontrar muitas semelhanças entre Apocalipse e outros escritos de João. João foi o único que se referiu a Jesus como o logos (“o Verbo”; João 1:1, 14; 1 João 1:1; Apocalipse 19:13). Uma das formas prediletas de João referir-se a Jesus era “o Cordeiro de Deus” (João 1:29, 36); o Livro de Apocalipse cha­ma Jesus de o “Cordeiro” vinte e duas vezes. João foi o único escritor de um Evangelho a mencionar que o lado de Jesus fora traspassado (João 19:34), fato também citado em Apocalipse (1:7)4.
Alguns questionam se o apóstolo escreveu real­mente Apocalipse, principalmente por causa das di­ferenças de estilo entre seus outros escritos e o Livro de Apocalipse. Dizem que o estilo de Apocalipse é mais complicado, e isto é interpretado por alguns como prova de que o apóstolo não teria escrito o li­
1 A versão inglesa New King James Version traz “O Apocalipse de Jesus Cristo”. 2 Se seus ouvintes não estiverem familiariza­dos com o apóstolo João, você pode dedicar alguns minutos para apresentar um resumo da vida dele. 3 João provavelmente era um nome comum na época assim como hoje, mas são mencionados apenas dois cristãos com esse nome no Novo Testamento: o apóstolo João (citado nominalmente pela primeira vez em Mateus 4:21) e João Marcos (veja Atos 12:12). 4 Outras semelhanças poderiam ser destacadas: compare Apocalipse 1:1 com João 17:7, 8 (veja também João 5:19, 20; 7:16). Compare João 7:37/Apoca­lipse 22:17; João 10:18/Apocalipse 2:27; João 20:12/Apocalipse 3:4; João 21:24/Apocalipse 22:8.

 Entretanto, a diferença de estilo pode ter outras explicações.
Por exemplo, o conteúdo é diferente: registrar vi­sões e descrever símbolos não é a mesma coisa que compor um relato planejado da vida de Jesus ou es­crever uma carta.
Além disso, a experiência era diferente: a maior parte de Apocalipse foi aparentemente anotada en­quanto João estava tendo as visões e ouvindo as vo­zes. No que se refere ao seu estado emocional, João disse: “e eu chorava muito” (Apocalipse 5:4). Tal es­tado mental certamente afetou a maneira como João se expressou.
É provável que também houvesse uma diferença de procedimento. Assim como Paulo5 e Pedro6, João certamente tomou nota do texto do seu Evangelho e das suas cartas com a ajuda de outros — homens que estavam mais familiarizados do que ele com o estilo de redação e a língua grega7. Por outro lado, João parece ter anotado as visões de Apocalipse com o próprio punho (1:11, 19; 2:1, 8, 12, 18; 3:1, 7, 12, 14; 10:4; 14:13; 19:9; 21:5)8. Naturalmente, então, o estilo seria diferente.
É preciso considerarmos também a possibilida­de de que o propósito era diferente. Os estudiosos têm observado que, embora o estilo de Apocalipse seja complicado em alguns trechos, raramente é ininte­ligível. Austin Farrer comentou: “Geralmente inda­gamos como ele veio a escrever o que escreveu, mas raramente temos de indagar o que ele quis dizer”9. Leon Morris enfatizou esta idéia:
…se, em algumas ocasiões, João rompe regras gramaticais, em outras ele segue essas mes-mas regras. Em outras palavras, parece que seu uso peculiar do grego é escrito para um pro-pósito, e não por ignorância das formas corre-tas.10
Em outras palavras, o Espírito Santo pode ter guiado o apóstolo João a escrever como ele escreveu a fim de produzir determinado efeito11.
Minha conclusão é que temos muitas razões para crer que o apóstolo João escreveu o texto — e nenhuma razão convincente para crer que algum João desconhecido o tenha feito12.
3. A DATA
É bem provável que Apocalipse tenha sido es­crito por volta de 94–96 d.C., durante o reinado de Domiciano. O livro foi obviamente escrito du­rante um período de acirrada perseguição à igreja (2:13; 6:9; 12:17; 13:7), e a maioria acredita que ele foi escrito numa época de perseguição pelo gover­no romano13. Visto que somente dois imperadores romanos — Nero e Domiciano — empenharam-se numa extensa perseguição aos cristãos na segunda metade do primeiro século14, o mais provável é que Apocalipse tenha sido escrito durante o reinado de um deles15.
Segundo a tradição não-inspirada, o livro foi es­crito durante a última parte do reinado de Domicia­no (81–96 d.C.). Irineu, escrevendo por volta de 185 d.C., disse que a “visão apocalíptica foi presenciada não muito tempo atrás, mas quase nos nossos dias, perto do final do reinado de Domiciano”16. Outros líderes da igreja primitiva (como Eusébio) também acreditavam que Apocalipse fora escrito durante o final da década de 90 d.C., durante o reinado de Do­miciano.
Alguns acreditam que Apocalipse foi escrito no fim do reinado de Nero (54–68 d.C.), mas as evidên­cias descobertas em meus estudos favorecem a opi­nião tradicional. Por exemplo, a natureza extensiva da perseguição até as fronteiras do império (3:10)
5 A prática de Paulo era ditar suas cartas a um escrevente (Romanos 16:22). Quando ele, ocasionalmente, escrevia de pró­prio punho, fazia questão de mencioná-lo (Gálatas 6:11). 6 Pedro usou Silas para escrever sua primeira epístola (1 Pedro 5:12). 7 O termo técnico, em desuso no português moderno, é “amanuense”. Os termos mais conhecidos são “secretário”, “escriba” e “assistente literário”. 8 Tudo isso, obviamente, foi feito sob a orientação do Espírito Santo, de modo que o resultado final fosse precisamente o que Deus desejava. 9 Austin Farrer, The Revelation of St. John the Divine (“O Apocalipse de São João, o Divino”). Londres: Oxford University Press, 1964, p. 50. 10 Leon Morris, Revelation (“Apocalipse”), ed. rev., The Tyndale New Testament Commentaries. Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1987, p. 31. 11 Declarações sobre “erros” gramaticais são inapropriados quando um texto inspirado está sendo analisado. “Regras” de gramática são feitas por homens, não inspiradas por Deus. Os editores têm liberdade para apontar erros gramaticais nos meus textos, mas deve-se agir cautelosamente quando se trata de fazer o mesmo com os textos do Espírito Santo. 12 Obviamente, responder a pergunta “qual João?” não é um fator crucial para nos beneficiarmos com a mensagem de Jesus. Não sabemos com certeza quem escreveu o Livro de Hebreus, mas isto não diminui o impacto dos seus ensinamentos. 13 Como veremos em futuras lições, muitas “pistas” no Livro de Apocalipse apontam para o Império Romano. 14 Veja o panorama histórico do Império Romano na lição “Sinais Significativos e Símbolos Surpreendentes”, nesta edição. 15 Alguns acreditam que Apocalipse foi escrito durante o reinado de Vespasiano (69–79 d.C.) e que ele se refere tanto à perseguição realizada pelo predecessor de Vespasiano, Nero, como à perseguição pelo filho de Vespasiano, Domiciano. Este ponto de vista baseia-se amplamente na “explicação” enigmática de João sobre as sete cabeças da besta do mar (13:1; 17:9-11). Cada interpretação de 17:9–11 tem suas dificuldades. (Veja a lição “Explicação, Especulação e Iluminação” em “Apocalipse — Parte 8”, desta série. Trata-se de uma passagem dúbia para embasar qualquer conclusão.) 16 Irineu Contra Heresias 5.30.
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foi mais típica no reinado de Domiciano do que no de Nero. Além disso, a condição das sete igrejas pa­rece se enquadrar melhor no final dos anos 90 do que nos 60. Nos anos 60, a igreja em Éfeso esta apa­rentemente florescendo (veja Atos 19 e 20 e o Livro de Efésios), mas já na época em que Apocalipse foi escrito, essa igreja abandonara seu primeiro amor e corria perigo de extinção (2:4, 5). Nestas lições, portanto, usaremos o final dos anos 90 d.C. como a provável data da composição do livro17.
4. A LOCAÇÃO
João estava na Ilha de Patmos quando recebeu a revelação. Ele estava exilado “na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do teste­munho de Jesus” (1:9). Patmos era uma “pequena ilha rochosa (cerca de 7 por 13 km), perto do litoral da atual Turquia, uns 80 km a sudoeste de Éfeso18. É provável que tenha servido de colônia penal romana”19. Segundo Sir William Ramsay, o exílio era precedido “por açoitamento, e era marcado por algemas perpétuas, vestes escassas, comida insufi­ciente, dormida ao relento, cela escura e trabalho sob os chicotes de guardiões militares”20.
5. O PÚBLICO-ALVO
Apocalipse foi escrito a sete igrejas existentes na época — e a todos os cristãos em todos os tempos. Apocalipse foi endereçado especificamen­te “às sete igrejas que se encontram na Ásia” (1:4): “Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia” (1:11)21. O termo “Ásia” não se refere ao continente da Ásia, mas à província romana da Ásia, que se localizava no litoral oriental do mar Egeu (atual litoral ocidental da Turquia). Havia mais de sete igrejas nessa província22, mas essas sete parecem ter sido escolhidas para representar as congregações daquela época (e de hoje também).
Embora o Livro de Apocalipse dirija-se especifi­camente a somente sete igrejas, ele visava — assim como outros livros do Novo Testamento endere­çados a públicos específicos — atingir um públi­co maior. Cada carta nos capítulos 2 e 3 inclui esta mensagem: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Es­pírito diz às igrejas” (2:7). Verificando as laterais de nossas cabeças, veremos que temos pelo menos um ouvido. Sendo assim, o Livro de Apocalipse foi es­crito para nós!
6. A NATUREZA
Segundo o capítulo 1, Apocalipse é em parte li­teratura apocalíptica, em parte profecia e em parte epístola:
1) Em primeiro lugar e acima de qualquer coi­sa, o livro é literatura apocalíptica. Ele começa com a expressão: “Revelação de Jesus Cristo…” (1:1). A palavra “revelação” traduz o grego apokalupsis. Na versão para o português o termo foi transliterado pelo menos no título. A literatura apocalíptica é um tipo especial de composição em que são abundantes símbolos estranhos.
2) O livro também é chamado de profecia: “Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia” (1:3; veja também 22:7, 10, 18, 19). Profetas eram porta-vozes inspirados por Deus, empenhados na “proclamação de qualquer palavra da parte de Deus — mandamento, instru­ção, história ou predição”23.
3) O estilo do livro é de uma epístola, ou carta. Após a frase de abertura, o livro se reverte para a típica saudação de uma epístola: “João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir” (1:4).
É possível que você tenha ouvido falar de pro­fecia e cartas, mas não esteja familiarizado com o termo “literatura apocalíptica”, por isso vamos em­preender alguns minutos para expor o que é isto. É provável que dentre os “sete fatos que você deve sa­ber sobre Apocalipse” este seja o mais importante.
Você precisa se familiarizar com a palavra “apocalíptico”24. Hoje, “apocalipse” é sinônimo de julgamento e destruição, mas a palavra grega apokalupsis não possui essa conotação. Apokalupsis significa simplesmente “um desvendamento” ou “uma revelação”25.
17 Deve-se entender que, embora a data exata da composição afete a interpretação de um ou mais detalhes, isto não afeta a mensagem geral do livro para os cristãos do primeiro século ou para os cristãos de hoje. 18 Veja o mapa na página 7. 19 Bíblia de Estudo NVI, São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 2167. 20 W. M. Ramsay, The Letter to the Seven Churches of Asia (“Car­ta às Sete Igrejas da Ásia”), William N. Ramsay Library, vol. 10 (s.c.p., 1904; reimpressão, Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1979, p. 85. João provavelmente era muito velho quando escreveu o livro; não se sabe se ele foi forçado a traba­lhar nas minas de Patmos. 21 Veja no mapa da página 7 a localização das sete cidades onde essas congregações se reuniam. 22 Entre outras congregações na província da Ásia estavam aquelas que se reuniam em Trôade, Colossos e Laodicéia (Atos 20:6, 7; Colossenses 1:2; 4:16). 23 Bíblia de Estudo NVI, São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 2169. 24 Não confunda este termo com “apó­crifo”, que significa “escondido”. “Apócrifa” é a designação dada a vários documentos não-inspirados produzidos em torno de 200 a 100 a.C. 25 É uma fusão das palavras “cobrir” e “des” ou “fora” na língua grega; significando literalmente “descobrir”, “desvendar”.4
Apokalupsis refere-se basicamente a qualquer coisa que seja desconhecida no passado mas tenha sido revelada no presente (veja Gálatas 1:12; 2:226). Usado num sentido técnico, o termo “apocalíptico” aplica-se a um tipo especial de literatura que surgiu durante os dois últimos séculos a.C. e o primeiro sé­culo d.C. Uma característica desse gênero é que a mensagem é transmitida por meio de símbolos es­tranhos e maravilhosos27. Na literatura apocalíptica, os símbolos não realçam meramente a mensagem; eles são a mensagem.
Em sua maioria, não são símbolos comuns re­lativos ao mundo tal como o conhecemos. Em vez disso, muitos símbolos são visões grotescas que só veríamos em pesadelos. Isto torna a perspecti­va apocalíptica bizarra para as pessoas de hoje. As revistas, os livros e os jornais que lemos hoje não estão escritos em linguagem apocalíptica. Por isso, podemos nos sentir desnorteados quando nos enve­redamos num mundo onde uma espada sai da boca de um homem, reluzentes cavaleiros galopam pela paisagem e um dragão é tão grande que a sua cauda arrasta as estrelas do céu!
Para os leitores originais, porém, a perspectiva apocalíptica não era considerada estranha e inco­mum. No Antigo Testamento, pode-se encontrar essa linguagem em partes de Ezequiel e grande
parte de Daniel, e ela é polvilhada aqui e ali em Isaías, Joel, Zacarias e outros livros do Antigo Tes­tamento. Além disso, no período entre o Antigo e o Novo Testamento — nos quatrocentos anos entre Malaquias e Mateus — são abundantes os escritos apocalípticos não inspirados. Ray Summers comen­tou o seguinte:
Quando o apocalíptico cristão, João, garantiu aos seus companheiros sofredores a esperança da destruição de Roma e a vitória da causa divi­na, ele estava seguindo uma trilha muito usada no passado com muitos pontos de referência co­nhecidos. Ao recorrer confiadamente às figuras apocalípticas em busca de uma solução de suas dificuldades ele estava criando uma atmosfera totalmente apropriada para muitos cristãos fa­miliarizados com os antecedentes judaicos de sua própria religião.28
Uma possível reação a isto é: “Tudo bem, então eles escreviam muito dessa maneira, mas por que fa­ziam isto? Por que não diziam simplesmente o que tinham de dizer numa linguagem simples?” Vários fatores estavam envolvidos no uso do gênero lite­rário apocalíptico. Os escritores estavam tentando fazer o impossível: falar da intervenção de Deus nas questões dos homens. Eles estavam “continuamen­te tentando descrever o indescritível, comunicar o incomunicável, retratar o irretratável”29. E, visto que a linguagem apocalíptica era uma forma de comuni­cação conhecida, as imagens fantásticas ajudaram, em vez de confundirem, a comunicação.
É provável que o fator mais importante tenha sido a atmosfera política e religiosa que propiciou esse tipo de texto. O solo em que a literatura apo­calíptica geminou eram tempos de inquietação: o ca­tiveiro babilônico foi o cenário para os Livros de Ezequiel e Daniel; a opressão pelos sírios levou à composição de muita literatura apocalíptica não-canônica30, durante o período intertestamentário; e a perseguição romana aos cristãos no reinado de Nero e Domiciano criou o pano de fundo para o Livro de Apocalipse. Muitos comentaristas acre­ditam que a linguagem simbólica nesses “tratados para tempos difíceis”31 tinha um propósito duplo: 1) revelar a mensagem aos iniciados que entendiam o significado dos símbolos e 2) ocultar a mensagem aos não-iniciados32.
Consideremos a mensagem do Livro de Apoca­lipse: o livro assegurou aos cristãos do primeiro sé­culo que o opressor deles, o Império Romano, cairia no final. E se os oficiais romanos entendessem essa mensagem? Em primeiro lugar, João teria dificulda­de para fazer as cópias do livro saírem de Patmos (1:11), pois era (e é) uma prática comum monitorar a correspondência dos presos. Em segundo lugar, as autoridades romanas não permitiriam que a mensa­gem circulasse livremente; confiscariam cada cópia que pudessem. Em terceiro lugar, um documento desse tipo seria usado como prova de que os cris­tãos acusados eram culpados de sedição. Na hipóte­se de uma cópia de Apocalipse, tal como ela chegou até nós, ter caído nas mãos dos oficiais romanos, podemos imaginá-los dando uma olhada rápida no manuscrito e liberando-o como “mais um absurdo
26 Para outros exemplos, veja Romanos 2:5; 16:25; 1 Coríntios 14:6; Efésios 3:3; 1 Pedro 1:7, 13; 4:13. 27 O termo “símbolo” é definido e explicado na lição “Aqui Há Dragões!”, nesta edição. 28 Ray Summers, A Mensagem do Apocalipse: Digno É o Cordeiro. Rio de Janeiro: Juerp, 1978, s.p. 29 William Barclay, The Revelation of John (“O Apocalipse de João”), vol. 1, ed. rev., The Daily Study Bible Series. Filadélfia: Westminster Press, 1976, p. 4. 30 Veja o artigo suplementar “A Questão da Canonicidade”, a seguir. 31 Edward A. McDowell, The Meaning and Message of the Book of Revelation (“O Significado e a Mensagem do Livro de Apocalip­se”). Nashville: Broadman Press, 1951, p. 7. 32 Se os seus ouvintes estiverem familiarizados com o propósito das parábolas de Jesus, você pode traçar um paralelo aqui. Costumamos dizer que Jesus falou por parábolas para simplificar a Sua mensagem, ou seja, para revelar a Sua mensagem. Embora isto seja verdade, Ele também disse que Ele falava por parábolas para ocultar a Sua mensagem aos que não estavam preparados para recebê-la (veja Mateus 13:10–17).5
dos cristãos”33.
Poderíamos falar mais sobre literatura apocalíp­tica. Por ora, basta sublinharmos esta idéia em nos­sas mentes: na literatura apocalíptica, a mensagem é transmitida através de símbolos.
7. A INTELIGIBILIDADE
Deus espera que entendamos Apocalipse — pelo menos suas mensagens básicas. Quando as revelações dadas a Daniel estavam chegando ao fim, ele recebeu a seguinte instrução: “Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tem­po do fim…” (Daniel 12:4; grifo meu). Visto que o cumprimento de muitas das profecias de Daniel es­tava num futuro distante34, não se esperava que os que viviam nos dias do profeta entendessem o livro (veja Daniel 8:27). Ao contrário disso, João recebeu a seguinte ordem: “Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo” (Apoca­lipse 22:10; grifo meu). O cumprimento do Livro de Apocalipse deveria ter início imediatamente (1:1, 3) e esperava-se que os leitores do livro o entendessem (veja 13:18).
Isto não significa que podemos entender tudo no livro. No capítulo 10 trovões falam. João disse que ele ia escrever o que eles diziam, quando “ou­viu uma voz do céu, dizendo: Guarda em segredo as coisas que os sete trovões falam e não as escrevas” (10:4; grifo meu). Talvez esta passagem tenha sido colocada no livro para imprimir em nossas men­tes a idéia de que ainda há coisas que não sabemos e jamais saberemos (veja Deuteronômio 29:29).
Apesar disso, podemos entender algumas coisas no Livro de Apocalipse, e Deus espera isto. O livro tem a intenção de ser uma “revelação”, e não uma “ocultação”. Se fôssemos inaptos para entender os ensinamentos centrais do livro, não poderíamos re­ceber a bênção prometida aos que “ouvem as pala­vras da profecia e guardam as coisas nela escritas” (1:3). O desafio para nós neste estudo será desven­dar as lições que Deus quer que aprendamos.
CONCLUSÃO
Vários anos atrás, um jovem cristão insistiu para eu desse uma aula sobre Apocalipse. Ele sem­pre me dizia como estava ansioso por estudar o li­vro. Finalmente, concordei e começamos o curso. Após várias semanas de estudo, ele veio até mim com o cenho franzido. Então, com a voz carregada de decepção, disse: “É difícil, né?”
Apocalipse não entrega os seus tesouros aos que se aproximam dele com indiferença. Você pode ou­vir desatentamente ou até pestanejar durante certas aulas bíblicas e ainda sair tendo aprendido alguma coisa de valor, mas isto não acontece numa aula sobre o Livro de Apocalipse. Se quiser aproveitar este estudo, terá de estar preparado para empregar algum esforço. Digo isto não para desanimá-lo de estudar Apocalipse, mas para incentivá-lo a decidir empenhar o esforço necessário para ser abençoado por este maravilhoso livro. Fazendo isto, você se sentirá sempre contente por ter tomado essa deci­são!
Questões para
Revisão e Debate
1. Quem é o verdadeiro Autor do livro (confor­me expresso em 1:1)? Em outras palavras, de quem é a revelação?
2. Quem escreveu a revelação (1:1)?
3. Enumere algumas possíveis razões da diferen­ça de estilo entre o Livro de Apocalipse e ou­tros textos do apóstolo João.
4. Quais datas sugerimos para a composição do livro?
5. Quem era o imperador romano naquela épo­ca?
6. Onde João estava quando recebeu a revela­ção?
7. Para quem o livro foi endereçado?
8. Qual é, fundamentalmente, o tipo de literatura de Apocalipse (conforme expresso em 1:1)?
9. Na literatura apocalíptica, através do que a mensagem é comunicada?
10. Que tipo de situação social geralmente está as­sociada a literatura apocalíptica?
11. Sugeriu-se que a literatura apocalíptica tinha um propósito duplo. Qual era esse propósito duplo?
12. Deus espera que entendamos o Livro de Apo­calipse? Isto quer dizer que podemos (ou te­mos de) entender tudo no livro?
33 Uma aparente exceção ao propósito de “ocultar” a verdade encontra-se no capítulo 17. “A grande Babilônia” é identificada como “a grande cidade que domina sobre os reis da terra” (v. 18), uma cidade assentada sobre “sete montes” (v. 9) — uma refe­rência óbvia à cidade de Roma. Talvez o Senhor tenha optado por clareza no lugar de sutileza neste simbolismo particular por causa da importância do ponto. Veja os comentários sobre 17:9, 18 na lição “Quando a Babilônia Tentar Seduzi-lo”, desta série, em “Apocalipse — Parte 8”. 34 Por exemplo, um acontecimento futuro predito por Daniel foi o estabelecimento da igreja/reino.6
Notas para Professores e Pregadores
De vez em quando, serão inseridos alguns grá­ficos ou mapas no meio das lições. Você poderá am­pliá-los e reproduzi-los numa cartolina ou transpa­rência, para usá-los como recursos visuais.
Grande parte do material escrito também pode ser exibida em forma de esboço para incrementar a aula. Por exemplo, veja o cartaz abaixo que costumo usar quando exponho as possíveis razões da dife­rença de estilo entre Apocalipse e outros textos do apóstolo João:
Por que a Diferença de Estilo?
Uma diferença no Conteúdo —
Visões, símbolos
Uma diferença na Experiência —
Uma situação carregada de emoção;
Apocalipse provavelmente foi escrito “no lo-
cal” da revelação
Uma Diferença no Procedimento —
Outros escritos:
João provavelmente usou um escrevente.
Apocalipse:
João provavelmente escreveu o livro de pró-
prio punho.
Uma diferença no Propósito?
A diferença no estilo pode ter sido delibe-
rada.
Aqui estão algumas informações que podem ser colocadas num cartaz para se introduzir o fato de que Apocalipse é, acima de tudo, literatura apoca­líptica:
David Roper
A Natureza do Livro
Literatura Apocalíptica —
Ensino simbólico sobre o futuro
Profecia —
Ensino inspirado para o presente
Epístola —
Carta endereçada a um público específico, o
que a torna pessoal
Ao estudar este material, pergunte sempre a si mesmo: “Como posso colocar esta informação num cartaz para que meus alunos ou ouvintes a enten­dam melhor?”
Como explicamos no início desta lição, prefe­rimos dedicar um tempo para firmar um funda­mento sólido antes de começarmos o estudo textual de Apocalipse. Isto funciona bem em sala de aula; mas pode não funcionar tão bem se você pretende pregar uma série de sermões baseados em Apoca­lipse. Nesse caso, uma opção é apresentar a parte mais crucial do material introdutório nas primeiras pregações. Depois disso, você pode fornecer o res­tante das informações históricas à medida que for pregando com base no texto bíblico. Por exemplo, ao pregar sobre o capítulo 1, você pode falar sobre o verdadeiro Autor, o escrevente, o público-alvo e outras informações introdutórias.
“Este notável livro [Apocalipse]
tanto é difícil de se entender…
como impossível de se esquecer.”
1, 2, 3 John & Revelation
(“1, 2, 3 João & Apocalipse”)
Earl F. Palmer
A Questão da Canonicidade
Desde a época em que o Livro de Apocalipse começou a circular entre as igrejas, ele era reco­nhecido como um volume autêntico oriundo da pena do apóstolo João. Ele foi incluído nas coleções mais antigas dos livros inspirados do Novo Testa­mento. Teófilo o incluiu no cânone1 por volta de 165. O Cânone Muratoriano (c. 170) referiu-se a ele. Os líderes da igreja primitiva, em sua maior parte, senão na completitude, citaram Apocalipse. Earl Palmer observou o seguinte:
…O Apocalipse é autenticado por mais fontes
1 A palavra “cânone” vem do latim equivalente a “padrão” ou “regra” e é usada com referência aos livros que foram aceitos como Escrituras inspiradas. O cânone não foi determinado por qualquer concílio humano, mas incluiu livros geralmente aceitos pela igreja primitiva com base na associação do livro com um apóstolo, no seu conteúdo espiritual, no seu apelo universal à igreja de Cristo e na sua inspiração divina.7
da igreja antiga do que qualquer outro livro do Novo Testamento. A maioria das provas antigas que temos da igreja primitiva mostra uma defe­sa amplamente embasada em favor do Livro de Apocalipse e uma certeza de que ele faz parte do cânone.2
Posteriormente, alguns escritores criticaram e até rejeitaram o livro por razões pessoais (por exem­plo, alguns julgaram o simbolismo depreciativo) e por razões estilísticas. Todavia, a igreja primitiva, como um todo, aceitou-o como a Palavra de Deus, sem questionar.
Não se pode ler Apocalipse sem se impressio­nar com o fato de o punho humano ter escrito com autoridade (1:1–3; 22:18, 19), sem duvidar de que o livro seria aceito. Ele foi aceito pela igreja primiti­va, e por pessoas que reconheciam o apóstolo João como escritor do livro. Estes fatos fornecem provas de que a obra é de fato “a Revelação de Jesus Cristo” registrada para nós por João, o discípulo amado.
2 Earl F. Palmer, 1, 2, 3 John & Revelation (“1, 2, 3 João e Apocalipse”). The Communicator’s Commentary Series, vol. 12. Dallas: Word Publishing, 1982, p. 97.

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