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segunda-feira, dezembro 20

CHAMADO AOS NÃO CONVERTIDOS

CHAMADO AOS NÃO CONVERTIDOS

Sermão

(nº. 174)

Pronunciado na noite de Domingo, 8 de novembro de 1857,

pelo Rev. C. H. Spurgeon

________

Todos aqueles que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está

escrito: maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão

escritas no livro da lei, para fazê-las. (Gal. 3:10).

Meu querido ouvinte. Você está convertido ou não? De sua resposta a esta questão dependerá a forma pela qual me dirigirei a você neste dia.

Queira, eu lhe rogo, pela tua alma, esquecer por alguns momentos que você se

encontra num lugar de culto, ouvindo um ministro do Evangelho, que prega a um auditório numeroso. Tente imaginar que você está sentado em sua casa, em sua sala, e que eu estou ao seu lado, sua mão na minha, conversando sozinho com você; porque é assim que eu desejo falar neste momento a cada um dos que me escutam.

Eu repito então, meu querido auditório, a questão soberanamente importante e

solene que já coloquei, e eu lhe conjuro a responder como na presença de Deus.

Você está em Cristo ou fora dele? Você procurou um refúgio junto daquele que é a única esperança do pecador? Ou você ainda é um estrangeiro na república de

Israel, longe de Deus e fora das promessas de seu santo Evangelho?

Vejamos, meu irmão, sem hesitação ou falsas desculpas; seja sincero e que sua

consciência responda SIM ou NÃO à minha pergunta. Porque, de duas coisas, uma: ou você está sob o peso da cólera de Deus, ou está livre dessa ira. Não há outra alternativa. Sim, você é neste momento mesmo, herdeiro da maldição divina, ou herdeiro do reino da graça. Qual desses dois estados é o seu? Você é que tem de dizer. E que não haja "se" ou "talvez" em sua resposta, mas que ela seja clara, leal, categórica. Se você tem ainda dúvida a este respeito, eu lhe suplico, não dê repouso a sua alma até que a dúvida se dissipe. Sobretudo, não se apresse em interpretar a dúvida em proveito próprio; antes a considere como uma forte presunção contra você. É mais provável, creia, que você esteja no mau estado que no bom. Agora então, ó meu irmão, ponha sua alma na balança e se um dos pratos não pesa mais que o outro, mas os dois se mantêm perto do equilíbrio, de tal sorte que você seja obrigado a dizer "Eu não sei qual", lembre-se que é melhor você decidir a questão pelo pior, ainda que isso seja terrível, do que resolver esta questão pelo bem, correndo o risco de se deixar seduzir e continuar a viver sob uma segurança presunçosa, até que você finalmente reconheça sua fatal ilusão no abismo do inferno.

Pode você então, com uma mão posta na Palavra de Deus e outra em seu próprio

coração, elevar neste instante seus olhos para o céu e dizer com uma humilde

segurança: "Eu sei uma coisa, que estava cego e agora vejo; eu sei que passei da

morte para a vida; eu sou o primeiro dos pecadores, mas Jesus morreu por mim e a menos que eu me engane da maneira mais terrível, eu sou desde agora um dos resgatados por Cristo, um monumento da graça de Deus?" Você pode, em boa consciência, me dar essa resposta? Se é assim, ó meu irmão, a paz de nosso Senhor seja contigo! Que a bênção do Altíssimo repouse sobre sua alma! Não tema; as palavras que vamos meditar não serão mais como raios para você. Leia o versículo 13 do capítulo que tirei meu texto, e aí você encontrará a confirmação gloriosa de suas esperanças – Cristo foi feito maldição por nós, porque está escrito: maldito o que for pendurado no madeiro.

Se então é verdade que você é um filho de Deus, convertido e regenerado, eu

repito, você não tem nada a temer, porque Cristo se fez maldição em seu lugar.

Mas tenho a convicção de que a grande maioria desta assembléia não poderia me dar uma resposta semelhante; e você em particular, meu querido ouvinte (porque quero continuar a me dirigir pessoalmente a você), você não ousaria, não é verdade, falar assim, porque você é estranho à aliança da graça. Você não ousaria mentir a Deus e à sua consciência; por causa disso você diz com uma franqueza que lhe honra: "Eu sei que nunca fui regenerado; eu sou hoje o que tenho sido em todo o tempo". Portanto, é com você que eu quero falar, ó homem! E eu lhe conjuro, por

Aquele que haverá de julgar os vivos e os mortos, por Aquele diante do qual eu e

você deveremos logo comparecer; eu lhe conjuro a escutar com atenção o que tenho a lhe dizer da parte do Senhor, lhe lembrando que este apelo talvez seja o último que lhe será dado a ouvir! E eu te conjuro também, ó minha alma, a falar com fidelidade a estes homens mortais que te cercam, por medo que no último dia, o sangue de suas almas não seja encontrado em roupa, e que tu mesma não sejas reprovada!

Ó Senhor, leve-nos todos a um estado de reverência e introspecção. Queira nos dar, neste momento, ouvidos que ouçam, uma memória que retenha e uma consciência que seja tocada por teu Espírito, pelo amor de Jesus !

Nós dividiremos este discurso em três partes. Primeiro, NÓS JULGAREMOS O ACUSADO; em segundo lugar, NÓS PRONUNCIAREMOS SUA SENTENÇA; e finalmente, se ele se reconhecer culpado e se arrepender (somente nestas condições), NÓS LHE ANUNCIAREMOS A LIBERTAÇÃO.

Primeiro, façamos o JULGAMENTO DO ACUSADO.

11Meu texto diz assim: maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da Lei para as praticar. Homem não convertido, eu lhe pergunto, você é culpado ou não culpado? Você tem perseverado em todas as coisas que estão escritas no livro da Lei? Na verdade, me parece quase impossível que você ouse sustentar sua inocência; mas quero supor, por um instante, que você tenha a triste coragem de fazê-lo. Quero supor que você diga ousadamente: "Sim, eu persevero em todos os mandamentos da Lei." É o que nós vamos examinar, meu caro ouvinte; e antes de tudo, permita-me lhe perguntar se você conhece esta lei que você diz cumprir.

Eu vou lhe dar um simples resumo que chamarei exterior, mas lembre-se que ela possui um sentido interior e espiritual infinitamente mais amplo que seu sentido literal. Escute então o primeiro mandamento da Lei: NÃO TERÁS OUTRO DEUS DIANTE DE MIM.

O quê? Você jamais amou outra coisa além de seu Criador? Você sempre lhe deu o primeiro lugar em suas afeições? Você não tem feito um Deus de seu ventre, ou de seu comércio, ou de sua família, ou de sua própria pessoa? Oh! Você certamente não ousará negar que este primeiro mandamento lhe condena! E o segundo, você o tem obedecido melhor?

NÃO FARÁS PARA TI IMAGEM DE ESCULTURA, NEM ALGUMA SEMELHANÇA DO QUE HÁ EM CIMA NOS CÉUS, OU EM BAIXO NA TERRA, NEM NAS ÁGUAS DEBAIXO DA TERRA.

O quê! Você jamais se curvou diante da criatura?

Jamais colocou qualquer objeto terrestre no lugar de Deus? De minha parte, eu

lhes declaro para minha vergonha, que tive ídolos em minha vida; e se sua

consciência fala com sinceridade, estou certo que ela lhe dirá também: "Ó homem!

Você tem sido um adorador de Mammon, um adorador de seus sentidos; você tem se prostrado diante de seu dinheiro e seu ouro; você tem se inclinado lhes dando honra e dignidade; você tem feito um Deus de sua intemperança, um Deus de suas cobiças, um Deus de sua impureza, um Deus de seus prazeres!

E o terceiro mandamento.

NÃO TOMARÁS O NOME DO SENHOR TEU DEUS EM VÃO.

Você ousaria sustentar que não o tem violado? Você jamais proferiu juramentos

grosseiros, ou palavras blasfemas; não empregou ao menos irreverentemente o

nome de Deus, em suas conversas comuns? Diga-me: você tem sempre santificado este nome, três vezes santo? Você nunca o pronunciou sem necessidade? Você nunca leu o livro de Deus distraidamente e com pressa? Você nunca escutou a pregação do Evangelho, sem respeito e recolhimento? Oh! Certamente, aqui também, você tem que se confessar culpado.

E quanto ao quarto mandamento, que trata da observação do sábado.

LEMBRA-TE DO DIA DE DESCANSO PARA O SANTIFICAR.

Há alguém bastante atrevido para dizer que nunca o transgrediu? Oh! Homem,

ponha então sua mão na boca e reconheça que estes quatro mandamentos

bastariam para lhe convencer do pecado e para despejar sobre você a justa cólera de Deus !

Mas continuemos nosso exame.

HONRA A TEU PAI E A TUA MÃE.

O quê! Você pretende não ser culpado neste ponto? Em sua juventude, você nunca os desobedeceu? Você nunca se rebelou contra o amor de sua mãe, nem desprezou a autoridade de seu pai? Folheie as páginas de seu passado. Veja se em sua infância, ou mesmo em sua idade madura, você sempre falou com seus pais como deveria fazer; veja se você sempre os tratou com a honra que eles têm direito e que Deus lhe ordenou lhes dar.

NÃO MATARÁS.

É possível, meu caro ouvinte, que você não tenha violado a letra deste

mandamento; é possível que você não tenha tirado a vida a um de seus

semelhantes; mas você nunca se deixou dominar pela cólera? Ora, a Palavra de

Deus declara expressamente que aquele que se encoleriza contra seu irmão, é um assassino (I Jo 3:15). Julgue, depois disso, se você é ou não culpado.

NÃO COMETERÁS ADULTÉRIO.

Talvez você tenha cometido coisas abomináveis, e esteja mergulhado hoje mesmo, nas mais vergonhosas luxúrias; mas, admitindo que você tenha sempre vivido na castidade mais perfeita, você pode dizer, ó meu irmão, que você não tem nada a lhe reprovar neste mandamento, quando você se coloca na presença destas solenes palavras do Mestre: qualquer que olhe uma mulher para a cobiçar, já cometeu adultério com ela em seu coração (Mt 5:28). Nenhum pensamento lascivo atravessou seu espírito? Nenhum desejo impuro manchou sua imaginação? Oh!

Certamente, se sua fronte não é dura como o bronze, se sua consciência não estiver inteiramente cauterizada, sua resposta a estas questões não deixaria dúvidas.

NÃO FURTARÁS.

Você jamais roubou alguém? Talvez, nesta manhã mesma, você tenha cometido um furto, e se encontra aqui, em meio ao povo, ainda com o produto do seu latrocínio; mas ainda que você seja de uma probidade exemplar, entretanto, não houve momentos em sua vida, em que você provou um secreto desejo de enganar seu próximo? Eu vou mais longe – você nunca cometeu, às escuras e em silêncio,

13

algumas daquelas fraudes, que mesmo não sendo contrárias às leis de seu país, não deixam de ser infrações manifestas da santa Lei de Deus?

E quem de nós seria tão audacioso em afirmar que tem obedecido perfeitamente ao nono mandamento?

NÃO DIRÁS FALSO TESTEMUNHO CONTRA TEU PRÓXIMO

Nunca demos ocasião à calúnia? Nós não temos, freqüentemente, interpretado mal as intenções de nossos semelhantes?

E o último mandamento.

NÃO COBIÇARÁS.

Onde está o homem que não tenha pisado este mandamento com os pés? Quantas vezes não temos desejado mais do que Deus nos tem dado? Quantas vezes nossos corações carnais não têm suspirado pelos bens que o Senhor em sua sabedoria julgou melhor nos recusar? Ah! meus amigos; sustentar nossa inocência diante da Lei de Deus, não seria isso, lhes pergunto, um ato de verdadeira loucura? E não lhes parece que a simples leitura desta Lei santa deveria bastar para extrair de nós, cheios de humilhação e penitência, esta frase: “Nós somos culpados, Senhor, somos culpados em todos os pontos?”

Mas ouço alguém me dizer: “Não, não quero me reconhecer culpado. Certamente, não teria a pretensão de perseverar em todas as coisas que estão escritas no livro da Lei, mas ao menos, fiz o que pude. Isto é falso, ó homem! Você se engana e mente diante da face de Deus! Não, você não fez tudo que é possível para perseverar no bem. Em milhares situações de sua vida, você deveria ter agido melhor do que agiu.

O quê! Este homem ousaria afirmar que fez o possível para agradar a Deus, quando o vejo assentado no banco dos escarnecedores, e insultar seu Criador até em seu santuário? O quê! Todos que estamos aqui, não teríamos podido, se tivéssemos querido, resistir àquela tentação, evitar aquela queda cuja lembrança nos condena?

Se nós não fôssemos livres para escapar do mal, sem dúvida seríamos desculpados ao cair; mas quem de nós não é forçado a reconhecer que houve em sua vida momentos solenes, nos quais chamado a escolher entre o bem e o mal,

resolutamente escolheu o mal e virou as costas ao bem, andando assim, sabendo e querendo, no caminho que conduz ao inferno?”

“Ah! Exclama um outro, é verdade que infrinjo a Lei de Deus, mas não sou pior do que aqueles que me cercam”. Pobre argumento é este, meu caro ouvinte, ou

melhor, de fato nem pode ser chamado assim. Você não é, assim creio, pior que o resto dos homens, mas lhe rogo, em que isto lhe é vantagem ? Será uma coisa

menos terrível ser condenado em companhia, ainda que seja, de um único perdido?

Quando, no último dia, Deus disser aos ímpios: Vão, malditos, para o fogo eterno!

Você crê que esta terrível sentença lhe será mais doce, porque ela será dirigida aos milhares, tanto quanto a você?

Se o Senhor precipitasse uma nação inteira no inferno, cada indivíduo sentiria tão vivamente o peso desse castigo, como se fosse o único a carregá-lo. Deus não é como os juízes da terra: se os tribunais fossem entulhados de acusados, talvez

fossem tentados a passar levemente por sobre mais de um processo; mas o

Altíssimo não agirá assim. Infinito em todas as suas faculdades, o grande número de criminosos não será obstáculo para Deus. Ele se mostrará tão justo e inflexível com você, como se não existisse outro pecador como você. Além disso, que você tem, eu rogo, com os pecados de outrem? Você não é responsável, porque cada um levará seu próprio peso. Deus lhe julgará segundo suas obras e não segundo as dos outros. As faltas da mulher de vida má, podem ser mais grosseiras que as suas, mas não se lhe pedirá conta de suas iniqüidades. O crime do assassino pode revelar muito aos meus olhos sobre suas próprias transgressões, mas você não será condenado por ele. Fixe bem em seu espírito, ó homem, que a religião é um negócio entre Deus e você, por isso, lhe conjuro, olhe seu próprio coração e não o de seu próximo.

Mas ouço outro de meus ouvintes falando assim: “Quanto a mim, tenho me

esforçado muito em guardar os mandamentos de Deus e, em certos períodos de

minha vida, creio que tenho conseguido: isso não é suficiente para me pôr ao

abrigo da maldição?” Para responder, meu irmão, permita-me outra vez ler a

sentença contida em meu texto: “Maldito todo aquele que não permanecer em

todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” Ah! Você não se

convence que o Senhor jamais confunde as cores agitadas de uma irresolução

mórbida com a santidade e obediência? Não será uma observação passageira e

intermitente destes mandamentos que ele aceitará no dia do juízo; não, é preciso perseverar em fazer sua vontade. Se então, desde minha mais tenra infância, até a hora em que meus cabelos brancos descerem ao sepulcro, minha vida não for um incessante cumprimento da Lei de Deus, eu serei condenado! Se desde o instante em que minha inteligência recebe seus primeiros raios de luz, eu me torno um ser responsável, até o dia em que, como uma espiga madura, eu sou recolhido nos celeiros eternos, eu não observei em sua inteireza todas as ordenanças de meu Mestre, a salvação pelas obras é impossível para mim, e estarei infalivelmente perdido!

Então, não espere, ó homem, que uma obediência vacilante e sem conseqüência

salvará sua alma. Você não perseverou em todas as coisas que estão escritas no

livro da Lei. Por conseqüência, você está condenado.

Mas outro objeta – “se há vários pontos da Lei que transgredi, não quer dizer que eu seja menos virtuoso”. Eu concordo, meu irmão. Quero supor que de fato você tem sido um modelo de virtude; eu quero supor que você é puro de muitos vícios. Mas releia meu texto (e lembre-se que não é minha palavra, mas a palavra de Deus que você vai ler). “Maldito todo aquele que não perseverar em todas as coisas que estão escritas no livro da Lei.” Note que não está dito para perseverar em algumas coisas, mas em todas as coisas.

Ora, eu lhe pergunto, você tem praticado todas as virtudes? Você tem evitado todos os vícios? Você diz, talvez, para sua defesa: “Eu não sou um intemperante.” Que seja. Mas você não será menos condenado, se você tem sido um fornicário. “Eu jamais cometi impureza”, você grita. Que seja ainda. Mas se você tem profanado o sábado, você tem incorrido em maldição. Você me responde que também nisto você não pode ser reprovado? Eu replico que se você tem tomado o nome de Deus em vão, esta única transgressão basta para lhe condenar. Sobre um ponto ou outro, a Lei de Deus lhe atingirá indubitavelmente. Mas há mais – não somente afirmo (e estou certo que sua consciência confirma também) que você não tem perseverado em todas as coisas que estão escritas na Lei, mas ainda sustento que você não tem

perseverado em guardar em sua inteireza um único dos mandamentos de Deus. O mandamento é de uma grande amplitude, disse o salmista (Sl 109:96), e nenhum homem sobre a terra conseguiu sondar sua profundidade. Não é apenas o ato exterior que nos deixa passíveis da condenação eterna, mas o pensamento, a imaginação, a concepção do pecado, bastam para fazer perder a alma. E lembrem-se, meus caros amigos, que esta doutrina, que pode, eu concordo, lhes parecer dura, não é minha – ela é de Deus.

Se vocês nunca tivessem transgredido a Lei divina, mas se seus corações têm

concebido maus pensamentos ou nutrido maus desejos, vocês merecem o inferno. Se vocês tivessem vivido desde seu nascimento até hoje, em um lugar inacessível, longe de qualquer ser humano, e lhes tivesse sido impossível de fisicamente cometer seja um ato impuro, seja um assassinato, ou uma injustiça, as imaginações de seus corações depravados, só elas bastariam para lhes banir para sempre da presença de Deus. Não! Não há uma alma nesta grande assembléia que possa esperar escapar da condenação da Lei! Todos, desde o primeiro até o último,m devemos nos curvar diante de Deus, e gritar em uma única voz – “Nós somos culpados, Senhor, nós somos culpados!” Quando eu te contemplo, ó Lei, minha carne treme, meu espírito fica perdido!

Quando ouço roncar seu trovão, meu coração se derrete como cera dentro de mim! Como posso suportar tua presença? Como poderei aplacar tua justiça? Certamente, se no último dia eu tivesse de comparecer a teu tribunal, não saberia escapar da condenação, porque minha consciência será minha acusadora! Mas creio que é supérfluo insistir muito neste ponto. Oh! Você que está fora de Cristo e sem Deus no mundo, não se convenceu ainda que você está sob o golpe da cólera divina? Para trás de nós, loucas ilusões! Caí, máscaras da mentira! Lancemos ao vento nossas vãs desculpas e reconheçamos que ao menos que nós sejamos cobertos pelo sangue e da justiça de Cristo, a maldição contida em meu texto, fecha a cada um de nós, individualmente, a porta dos

céus e não nos deixa nada mais a esperar além das chamas da perdição.

II

O acusado é, então, julgado e reconhecido culpado. Agora SUA SENTENÇA TERÁ DE SER PRONUNCIADA. Em geral, os ministros de Deus amam pouco esta tarefa.

De minha parte, lhes confesso, preferiria pregar vinte sermões sobre o amor de

Cristo, do que um único como este.

De resto, me é raro escolher assunto como este, visto que não me parece necessário tratá-lo freqüentemente; entretanto, se nunca o tratasse, se deixasse sempre as ameaças divinas relegadas a segundo plano, sinto que meu Mestre não poderia abençoar a pregação de seu Evangelho, porque Ele quer que a Lei e a graça sejam anunciadas na mesma medida e que cada uma conserve o lugar que lhe é próprio.

Ouçam então, meus irmãos, enquanto que, com dor na alma eu pronunciarei a

sentença levantada contra todos aqueles dentre vocês que não pertencem a Cristo – Pecador não convertido! Você é maldito! Maldito neste momento mesmo! Você é maldito não por causa de um auto-denominado mágico qualquer, cujo pretenso sortilégio só pode despertar medo aos ignorantes; não por algum monarca terrestre que poderia no máximo fazer perecer seu corpo e devastar seus bens; mas maldito pelo seu Criador ! Maldito pelo Monarca dos céus! Maldito! Oh! Que palavra é esta!

Que coisa terrível é a maldição de qualquer parte que ela venha! E a maldição de

um pai, como ela deve ser a mais terrível entre todas! Temos visto pais que, levados ao desespero pela conduta de um filho rebelde e depravado, têm levantado suas mãos aos céus, pronunciando sobre o filho a mais terrível das maldições. A Deus não agrada que eu aprove esse ato! Reconheço, ao contrário, que é tanto temerário quanto insensato. Mas, qualquer que seja a reprovação com que se possa considerar o ato em si, não resta menos verdadeiro que a maldição de um pai imprime sobre aquele que a mereceu, uma vergonhosa, indelével destruição. Oh!

Eu sofro só em pensar o que minha alma provaria se tivesse sido amaldiçoada por aquele que me gerou! Certamente, meu céu estaria coberto por trevas; o sol não brilharia mais em minha vida. Mas ser maldito de Deus!...

Oh! Pecadores, as palavras me faltam para lhes falar o que é esta maldição!...

Mas eu lhes ouço me responder: “Se é verdade que nós temos incorrido na

maldição divina, ao menos não sentiremos seus efeitos durante esta vida; isso é

algo que espera um futuro ainda bem distante, por isso pouco nos inquieta.” Você se engana, ó alma, você se engana! Desde agora a cólera de Deus permanece sobre você. Você não conhece ainda, é verdade, a plenitude da maldição, mas por isso agora mesmo você não é menos maldito. Você ainda não está no inferno; o Senhor não lhe cerrou definitivamente as entranhas de suas misericórdias e não lhe rejeitou ainda para sempre; mas você está debaixo do golpe da Lei. Abra o Livro de Deuteronômio. Leia as ameaças dirigidas ao pecador, e veja se a maldição de Deus não é ali colocada como algo imediato, atual, presente. (Deut. 28:15-16). Está escrito que você será maldito na cidade, isto é, no lugar de sua habitação, de seu trabalho, de seus negócios; você será maldito nos campos, isto é, nos lugares onde você vai procurar o descanso, repouso, o prazer; seu cesto será maldito e também sua amassadeira; o fruto de seu ventre será maldito e o fruto de sua terra; as crias de suas vacas e as ovelhas de seu rebanho; será em sua entrada e em sua saída! Há homens sobre os quais a maldição divina parece pesar de uma maneira visível.

Tudo o que eles fazem é amaldiçoado. Se eles adquirem riquezas, a maldição se

agarra a elas; se eles constroem casas, a maldição cai sobre suas casas. Veja o

avarento: ele é amaldiçoado em seus tesouros, porque sua alma está tão corroída pela ganância e cobiça, que ele não pode desfrutar de seus tesouros mesmos. Veja o intemperante: seu cesto e sua amassadeira são literalmente malditas, porque seu palácio, regado de bebidas embriagadoras, não pode mais usufruir de nenhum alimento. Ele é também maldito em sua entrada e saída, porque desde quando ele atravessa a soleira de sua própria casa, suas crianças correm para se esconder, tal o medo que ele lhes inspira. E será maldito um dia, no fruto do seu ventre, porque quando seus filhos avançarem na idade, eles seguirão certamente o exemplo de seu pai; eles se darão aos mesmos excessos de seu pai; eles jurarão como ele jurou; eles se aviltarão como ele se aviltou. Hoje, o infeliz procura talvez se convencer que pode, sem grande inconveniente, se embebedar e blasfemar quanto bom lhe pareça; mas que dor aguda atravessará sua consciência (se ainda lhe resta alguma consciência ...), quando vir seus filhos andarem sobre suas vergonhosas pegadas !

Sim, repito, a maldição divina acompanha de uma maneira visível certos vícios;

mas ainda que ela não seja sempre igualmente aparente, na realidade ela não pesa menos sobre qualquer que seja a transgressão da Lei. Você, então, pecador, que vive sem Deus, sem Cristo, estranho à graça de Jesus, saiba, você é maldito –

maldito quando se assenta, maldito quando se levanta ! Maldito é o leito onde você deita; maldito o pão que você come; maldito o ar que você respira! Para você tudo está amaldiçoado. O que quer que você faça, ou aonde você vá, você é maldito!...

Oh! Pensamento terrível! Neste momento mesmo, eu não posso duvidar; eu tenho diante de mim um grande número de criaturas imortais que são malditas de Deus!

Infelizmente! Por que é preciso que um homem fale assim a seus irmãos? Mas

ainda que este dever seja penoso, como ministro de Cristo, eu tenho de cumpri-lo, sem o que eu seria infiel em relação às suas almas que perecem. Ah! Queira Deus que haja nesta assembléia alguma pobre alma que, cheia de pavor, grite: “É verdade então? Eu sou maldito? Maldito de Deus e de seus santos anjos, maldito sobre a terra e no céu - maldito ! maldito ! Sempre maldito !” Oh ! Eu estou convencido que se não quisermos levar a sério esta única palavra –Maldito – não precisará muito para dar o golpe de morte à nossa indiferença e torpor espirituais!

Mas, tenho mais que isto a lhe dizer, meu querido ouvinte. Se você é impenitente e incrédulo, devo lhe advertir que a maldição que hoje está sobre você, não pode em nada ser comparada com aquela que cairá sobre você depois. Você sabe que em poucos anos nós devemos morrer. Sim, jovem, logo você e eu envelheceremos; ou talvez bem antes de alcançarmos a velhice, nos estenderemos sobre nosso leito, para nunca mais nos levantarmos. Nós acordaremos de nosso último sono, e ouviremos murmurar ao nosso redor que nossa última hora vai soar. O médico consultará uma última vez nosso pulso, depois dirá à nossa família amargurada que não há mais esperança! E nós estaremos lá, deitados, imóveis e sem força. E nada virá romper o silêncio lúgubre do quarto mortuário; apenas o barulho monótono do relógio ou o choro de nossa mulher e nossos filhos. E teremos que morrer!... Oh!

Que hora solene será quando formos pegos pelo grande inimigo do gênero

humano: a morte!

Já o gemido despedaça nosso peito; é muito se pudermos articular uma única

palavra; nossos olhos se embaçam; a morte pôs seu dedo frio sobre o calor de nosso corpo e o atingiu para sempre; nossas mãos recusam levantar-se; estamos à beira do sepulcro! Momento decisivo, momento solene entre todos os momentos da vida, é aquele onde a alma entrevê seu destino; onde, como através das fendas de sua prisão de barro, ela descobre o mundo por vir! Oh! Que língua humana poderia exprimir o que passará no coração do não convertido, quando ele estiver diante do tribunal de Deus, e ouvir o estrondo dos raios de sua cólera eterna em suas orelhas e sentir que entre o inferno e ele, não há mais que um intervalo de um momento!

Quem poderia descrever o terror inexprimível que tomará os pecadores, quando se encontrarem na presença das realidades, sobre a existência das quais não tinham querido crer? Ah! Desprezadores que me escutem! Hoje vocês podem rir à vontade das coisas de Deus. Vocês podem, saindo deste recinto, zombar do que acabaram de ouvir, tornar ridículo o pregador e folgar às suas custas. Mas esperem até quando estiverem sobre o seu leito de morte e vocês não rirão mais, eu lhes garanto! Agora que a cortina está cerrada, que o futuro está escondido de seus olhos, lhes é fácil zombar do que virá; mas quando o Senhor levantar a cortina, e os horizontes eternos se desenrolarem diante de seus olhos, vocês não terão mais coragem de rir. O rei Acabe, assentado em seu trono, rodeado de cortesãos, riu do profeta Miquéias; mas não consta que ele tenha rido do profeta, quando uma flecha inimiga, penetrando por uma emenda de sua couraça, o feriu mortalmente (I Re22). Os contemporâneos de Noé riram do venerável ancião que lhes anunciava que o Eterno haveria de destruir o mundo por um dilúvio: sem nenhuma dúvida eles o tinham por um sonhador, visionário, um insensato. Mas em que lhes tornou o seu desdém e sarcasmos, ó céticos, quando Deus fez descer do céu imensas cataratas, quando as fontes do grande abismo foram abertas e o mundo foi inteiramente submerso? Então reconheceram, mas tarde demais, que Noé havia dito a verdade.

E vocês mesmos, pecadores que se encontram neste auditório, quando vocês

estiverem no ponto de serem lançados na eternidade, não creio que rirão ainda de mim e da palavra que lhes anuncio. Antes dirão a si mesmos: “Eu me lembro

daquela época, quando um dia entrei por curiosidade naquele lugar de culto; eu

ouvi um homem que falava de uma maneira forte e solene; naquele momento não gostei muito; entretanto não poderia negar o pensamento de que ele me dizia a verdade e que queria o meu bem. Oh! Como não escutei seus apelos! Como não aproveitei seus avisos! O que não daria para poder ouvi-lo de novo!”

Há pouco tempo um caso bem parecido veio ao meu conhecimento. Um homem

que muitas vezes me havia coberto de zombarias e injúrias, tendo partido num

domingo para uma viagem de passeio, voltou para sua casa apenas a tempo de

morrer. Na manhã da segunda-feira, sentindo seu fim aproximar-se, o que você

pensa que ele fez? Mandou chamar com pressa o servo de Deus que lhes fala neste momento, aquele mesmo que ele havia insultado tantas vezes! Ele queria que ele lhe indicasse o caminho para o céu, que lhe falasse do Salvador. Eu fui

apressadamente e com alegria. Mas infelizmente! Como é triste a tarefa de falar a um profanador do sábado, a um contendor do Evangelho, a um homem que passou sua vida a serviço de Satanás e que chega na sua última hora ! E de fato, o infeliz morreu logo. Ele morreu sem a Bíblia em sua casa, sem oração pedindo a Deus por sua alma, a não ser aquela que eu pronunciava na cabeceira de seu leito... Oh! Meus caros amigos, creiam: é uma coisa terrível morrer sem Salvador! Certa vez, após ter assistido os últimos momentos de um pobre pecador que tocava a salvação de uma forma pela qual eu teria pouca esperança, voltei para casa com a alma quebrada, o coração entristecido, pensando comigo mesmo : “Meu Deus! Que eu possa pregar as insondáveis riquezas de Cristo a cada hora, a cada instante do dia, a fim de que as almas possam olhar para Cristo antes de que lhes seja tarde demais!” Depois, eu pensei no pouco zelo, pouco amor, pouco fervor com o qual tantas vezes anunciei as misericórdias de meu Mestre, e chorei – sim, eu chorei amargamente, sentindo que não pressionei as almas como deveria fazer, ou seja, com insistência e lágrimas,

para fugirem da cólera que há de vir.

A CÓLERA QUE HÁ DE VIR! A CÓLERA QUE HÁ DE VIR! Oh! meus queridos

ouvintes, firmem bem em seus espíritos, eu lhes peço, que esta não é uma palavra vã. As coisas sobre as quais lhes falo não são nem sonho, nem fábulas de velhas.

São verdades, e vocês as conhecerão logo, cada um por sua própria conta. Sim,

pecador, você que não tem perseverado em todas as coisas que estão escritas no

livro da Lei, e que não procurou refúgio junto a Cristo, o dia se aproxima quando as coisas invisíveis se tornarão para você realidades vivas terríveis. E então, oh ! então, o que você fará ? Após a morte, segue o julgamento.

Um dia Jesus, do trono de sua Glória, virá julgar os vivos e os mortos.

Tente imaginar aquele grande e glorioso dia do Senhor. O relógio do tempo soou

sua última hora. As almas dos reprovados vão ouvir sua sentença definitiva. Seu

corpo, ó pecador, é lançado fora do sepulcro; você desenrola a mortalha e olha ...

Mas que barulho terrível é esse? Um barulho formidável que abala as colunas da

terra e faz cambalear até o céu? É a trombeta do arcanjo, a trombeta do arcanjo que ressoa até às extremidades da terra, chamando todos os homens para o

julgamento! Você ouve e treme. De repente uma voz se faz ouvir, voz que é saudada por uns com gritos de desespero, por outros com cantos de alegria. “Eis que ele virá, ele virá, e todo o olho o verá!” E o trono, branco como alabastro, aparece sobre uma nuvem do céu; e sobre o trono, assentado alguém envolto em majestade. É Ele! É o Homem que morreu no Calvário! Eu vejo suas mãos perfuradas, mas que mudança em sua aparência! Nada de coroa de espinhos. Ele compareceu ao tribunal de Pilatos. Agora o mundo inteiro comparece ao seu. Mas ouçam! A trombeta soou de novo. O Juiz abre o Livro. Faz-se silêncio em todo o céu!

A terra está totalmente em silêncio. “Reúnam meus eleitos dos quatro ventos,

meus resgatados das extremidades do mundo.” Também os anjos obedecem.

Como um relâmpago, suas asas separam a multidão. Aqui, estão os justos,

reunidos à direita de seu Mestre; e você, pecador, você é deixado à esquerda.

Você é deixado para suportar o ardor devorador da cólera eterna. As harpas

celestes fazem ouvir doces melodias, mas elas não são doces para você. Os anjos

repetem em coro: “Venham, vocês, benditos do Pai, e possuam por herança o

reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo”; mas esta inefável

saudação não lhe diz respeito. E agora, sobre a face do Senhor se acumulam

nuvens de indignação; relâmpago cobre seu rosto; raios jorram de seus olhos.

Ele olha para você que o desprezou; você que brincou com sua graça, que riu de

sua misericórdia, que profanou o dia de seu repouso, que zombou de sua cruz,

que não quis que ele reinasse sobre sua alma! Ele olha para você, e com uma voz

mais tremenda que dez mil trovões, ele grita: “Aparte-se de mim, maldito!” E

depois ... Não! ... Eu não quero lhe seguir mais longe! Não quero falar nem do

verme que nunca morre, nem do fogo que jamais se extingue; não quero

descrever nem os sofrimentos do corpo, nem as torturas da alma. Que me baste

lhes dizer, pecadores não convertidos, que o inferno é terrível, que a sorte dos

reprovados é pavorosa... Oh! Então fujam, fujam da cólera por vir! Fujam dela

sem demora; fujam dela já, pelo medo que sendo surpreendidos pela morte,

vocês não se vejam transportados, de um golpe, para o meio dos horrores

indizíveis da perdição eterna! Maldito todo aquele que não permanece em todas

as coisas escritas no livro da Lei, para praticá-las.

III

Mas, Deus seja louvado, nós temos agora uma tarefa mais doce a cumprir. Nós

viemos, no nome de nosso Mestre, ANUNCIAR A LIBERTAÇÃO a todo pecador que se arrepende.

Você me diz: “Pregador do Evangelho, você nos condenou a todos”. Isto é

verdade, meus queridos ouvintes. Entretanto, não sou eu, mas Deus é quem

condena. Eu posso dizer diante dos céus: eu lhes amo a todos, individualmente,

como um irmão ama seus irmãos. Se lhes falo com severidade, é unicamente

para o seu bem. Meu coração, minha alma, estão cheios de compaixão por vocês; e em minhas palavras, aquelas aparentemente mais duras, há na realidade mais amor que nos discursos agradáveis daqueles que lhes dizem Paz, Paz! Quando não há paz. Oh! Não creiam que tenho prazer em pregar como fiz hoje. Não, Deus me é testemunha! Eu prefiro mil vezes lhes alimentar de Jesus, de sua doce e gloriosa pessoa, de sua graça e de sua justiça perfeita; também, tenho em meu coração, antes de terminar, de lhes fazer ouvir palavras de paz. Então se aproxime meu irmão; dê-me sua mão e escute a mensagem da graça que lhe trago. Você se sente culpado, condenado, maldito? Você diz neste mesmo instante: “Oh, Deus! Eu reconheço que o senhor será justo em fazer cair sobre mim todo o peso de sua maldição?” Você compreende que longe de poder ser salvo por causa de suas obras, você está inteiramente perdido por causa de seus pecados? E você tem um ódio profundo pelo mal? Você se arrepende sinceramente? Se é assim, cara alma, deixe-me lhe dizer onde você encontrará a

libertação. Homens irmãos! Saibam todos isto. Jesus Cristo, descendente de

Davi, foi crucificado, morto e enterrado. Agora, ele está ressuscitado, e assentado à direita de Deus de onde intercede por nós. Ele veio ao mundo para salvar os pecadores pela sua morte. Vendo que os pobres filhos de Adão estavam sujeitos à maldição, ele mesmo se encarregou dessa maldição e assim lhes libertou. Se, então, Deus amaldiçoou Cristo no lugar deste ou daquele homem, é impossível que ele amaldiçoe esse homem de novo. “Mas Cristo foi amaldiçoado por mim?”

– alguém me pergunta. A isto lhe respondo: Deus o Santo Espírito lhe fez ver seu pecado ? Ele lhe tem feito sentir toda a amargura? Ele lhe ensinou a dar este

grito de humilhação: Oh, Deus! Tem misericórdia de mim que sou pecador? Se,

na sinceridade de seu coração, você pode responder afirmativamente a estas

questões, tenha bom ânimo, meu muito amado; Cristo foi feito maldição em seu

lugar; e se Cristo foi feito maldito em seu lugar, você não está mais sujeito à

maldição. “Mas eu queria ter certeza - talvez você insista; gostaria de não poder

duvidar que Jesus foi realmente feito maldição por mim.” E por que você

duvidaria, meu irmão? Você não vê Jesus expirando sobre a cruz? Não vê suas

mãos e seus pés ensangüentados? Olhe para Ele, pobre pecador. Não olhe mais

para si nem para suas iniqüidades; olhe para Ele e seja salvo. Tudo o que ele

exige de você, é que você olhe para Ele e por isso mesmo Ele lhe dará a sua

segurança. Venha a Ele, confie e creia. Oh! Eu lhe suplico, aceite com

simplicidade e fé esta declaração da Escritura: é uma coisa certa e digna de ser

recebida com inteira confiança, que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar o

pecador.

O quê? Alguém ainda objeta. “Devo crer então, que Jesus morreu por mim,

simplesmente porque eu me sinto pecador?” Justamente, meu irmão. “Mas no

entanto, me parece que, se eu possuísse alguma justiça, se pudesse fazer belas

orações ou boas obras, seria mais direito concluir que Cristo morreu por mim.”

Você se engana, meu irmão, você se engana. A fé que então você teria, não seria

mais a fé; isso seria justiça própria e nada mais. Uma alma crê em Jesus, quando o pecado lhe parecendo em todo seu negror, ela se lança simplesmente nos seus braços, e se dá a Ele para a purificar de todas as suas manchas. Então vá, pobre pecador, como você está, com sua indignidade e miséria; tome em suas mãos as promessas de Deus, e, ao entrar em sua casa, procure a solidão de seu quarto.

Lá, ajoelhe-se junto ao seu leito, derrame sua alma diante de Deus. Diga a este

Deus que é rico em compaixão e abundante em misericórdia: “Oh, Senhor! Eu

sei que tudo o que acabo de ouvir é verdade. Sim, eu sou maldito e maldito

justamente! Eu sou um pecador que merece a condenação eterna. E tu sabes, ó

Senhor, estas confissões tomam agora em minha boca um sentido completamente diferente. Ao reconhecer que sou pecador, quero dizer que sou

um verdadeiro pecador. Eu quero dizer que se tu me condenares, eu não teria

nada a dizer, que se tu me separar para sempre de tua presença, eu teria apenas

o que me é devido. Oh, meu Deus ! Teu sustento para comigo me maravilha e me confunde. Como tu pudeste sofrer por um ser tão vil como eu, que enlameou

tanto tempo a terra ? Senhor, eu zombei de tua graça e desdenhei teu Evangelho.

Eu desprezei as instruções de minha mãe e esqueci das orações de meu pai.

Senhor, eu vivi longe de ti, violei teus sábados, profanei teu santo nome. Eu fiz

tudo que é mal, tudo o que é desagradável aos teus olhos; e se tu me

precipitasses no inferno, eu seria reduzido ao silêncio. Sim, meu Deus, eu sou

um pecador. Um pecador perdido sem socorro, a menos que tu me salves; um

pecador sem nenhuma esperança de salvação, a menos que tu me libertes ! Mas,

graças te dou, ó Senhor, tu sabes que também eu sou um pecador arrependido,

acusado em sua consciência, afligido por causa de suas transgressões. E assim,

venho nesta noite te lembrar o que tu disseste em tua Palavra: Eu não lançarei

fora, aquele que vier a mim; e mais : é uma coisa certa e digna de ser recebida

com inteira confiança, que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores.

Senhor, eu venho a ti! Senhor, eu sou um pecador! Jesus veio então para me

salvar; Senhor, eu creio! Eu me confio ao meu Senhor para a vida e para a morte!

Eu não tenho esperança, a não ser nele e odeio até o pensamento que diz que eu

possa encontrar salvação além de tua graça. Salve-me então, Senhor; e ainda que eu bem saiba que pela minha conduta futura, eu não poderia jamais conseguir apagar um único de meus pecados passados, quero entretanto te suplicar, ó meu Deus, que me dês um coração novo e um espírito reto, a fim de que a partir de hoje e para sempre, eu possa correr no caminho dos teus mandamentos; porque não tenho desejo maior, que ser santo como tu és santo e de andar diante de ti como teu filho. Tu sabes, ó Senhor, para ser amado por ti, eu renunciarei voluntariamente a tudo o que possuo, e ouso esperar que tu me ames, porque meu coração começa a sentir os abraços do teu amor. Eu sou culpado, mas nunca teria conhecido minha culpa se tu não a tivesses feito conhecê-la. Eu sou vil, mas jamais saberia que sou vil, se tu não me tivesses revelado. Oh!

Certamente, meu Deus, tu não me destruirás, após ter começado em mim tua

boa obra.

Diante de ti, eu me envergonho e permaneço confuso!

Mas, Senhor, tua bondade tira minha miséria;

Tu não tens, entre ela e tua cólera,

Posto o amor, a cruz e o sangue de Jesus?

Sim, ore assim, meu mui amado; ou, se você não puder orar tão longamente,

diga estas simples palavras do fundo do coração: “Senhor Jesus, eu não sou

nada! Sejas tu mesmo o meu tudo!”

Oh! Deus permita que haja nesta assembléia algumas almas que, neste mesmo

instante, façam subir este grito em direção ao seu trono! E se assim for, saltem de alegria, ó céus! Cantem, ó serafins! Rejubilem-se, ó resgatados! Porque está aqui a obra do Eterno. Que toda a glória seja dada a seu nome! Amém.


NOVIDADE PARA SUA IGREJA. ACESSE:
http://bispoluissousa.blogspot.com/2010/12/apostilhas-para-pastores-para-pastores.html

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